No início dos anos 2000, a indústria fonográfica enfrentava diversas transformações. As grandes gravadoras sofriam com a queda nas vendas de discos físicos e a pirataria, enquanto selos independentes encontravam oportunidades de crescimento. Importantes nomes da música brasileira, como Chico Buarque e Maria Bethânia, buscavam maior liberdade de criação fora das multinacionais. Nesse cenário, a gravadora Trama, criada em 1998 por João Marcello Bôscoli e , se destacou ao promover uma nova cena musical, apresentando talentos como Luciana Mello, Max de Castro, Simoninha, DJ Marky, Fernanda Porto e Cansei de Ser Sexy.
Fundada em 1998 por João Marcello Bôscoli e André Szajman, a Trama também abrigava artistas consagrados, lançando trabalhos de Gal Costa, Tom Zé e Jair Rodrigues. A gravadora rapidamente se tornou um ponto de referência na indústria musical, inovando com iniciativas como o Trama Virtual, uma plataforma digital que divulgava bandas e artistas independentes.
Retorno da Gravadora Trama e novas iniciativas
Em 2024, a Trama retorna à ativa com uma nova fase, marcada pelo lançamento da versão inédita de “Para Lennon e McCartney” na voz de Elis Regina. A gravadora agora se dedica a três frentes principais: lançar novos artistas, revitalizar e remasterizar seu catálogo, e digitalizar e restaurar seu acervo. Essas iniciativas são fundamentais para preservar a memória da música brasileira.
“A digitalização do acervo é nossa história. São mais de 20 mil mídias em diversos formatos”, destaca Szajman, que voltou ao Brasil em 2019 após morar no exterior. Ele enfatiza a importância da inteligência artificial (IA) no processo de aprimoramento da qualidade de imagem e som. “Para passar do físico para o digital, é o tempo da vida, não tem como apressar”, comenta.
A digitalização do acervo, que inclui preciosidades audiovisuais com artistas como Cássia Eller, Elza Soares, Hermeto Pascoal, Leci Brandão, Belchior e Cidade Negra, deve levar pelo menos mais três anos. A Trama também presta serviços de digitalização para outras empresas, um negócio segmentado e impulsionado pela paixão pela música e visão de longo prazo.
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Mudanças no mercado fonográfico e a hibernação da Trama
No início dos anos 2010, com o avanço das redes sociais e a chegada do Facebook, o Trama Virtual perdeu relevância, culminando no seu encerramento em 2013. Apesar disso, Bôscoli e Szajman nunca consideraram vender o acervo da gravadora, que atingiu um pico de faturamento de R$ 23 milhões em 2006/2007 (aproximadamente R$ 48 milhões em valores atuais). A Trama entrou em um “modo hibernação”, sem encerrar suas atividades, e manteve o foco na preservação do seu rico acervo musical.
Visão e parceria
Nesse sentido, Bôscoli e Szajman, amigos há mais de 40 anos, trazem perfis complementares para a parceria: Bôscoli, filho da cantora Elis Regina e do produtor e compositor Ronaldo Bôscoli, é ligado ao lado artístico, enquanto Szajman vem do mundo dos negócios. Juntos, eles unem entusiasmo e experiência para impulsionar a gravadora.
Foi ideia de Szajman investir em novos talentos nesta nova fase. Além do programa de rádio “O Novo Sempre Vem”, apresentado por Bôscoli em parceria com a Novabrasil, a gravadora lança faixas de novos artistas no streaming, como o cantor João Sabiá. Esses lançamentos são mensais, enquanto as relíquias do acervo são lançadas semanalmente.
Futuro e experiência ao vivo
Além disso, com o retorno, a Gravadora Trama planeja adicionar uma quarta vertente às suas atividades: a experiência ao vivo. O selo, que já investiu em eventos no passado, pretende retomar essa área com novos projetos, fortalecendo ainda mais sua presença no cenário musical.