Pesquisadores brasileiros descobriram que esponjas marinhas abrigam compostos com grande potencial para combater a malária, inclusive nas formas resistentes aos tratamentos atuais. O estudo, divulgado na revista ACS Infectious Diseases, representa um avanço promissor no desenvolvimento de novos medicamentos.
A malária é uma das doenças infecciosas mais letais do mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 600 mil pessoas morreram em 2023, sendo a maioria crianças menores de cinco anos. O parasita é transmitido por mosquitos e pode causar complicações graves. Por isso, encontrar alternativas eficazes ao tratamento é essencial.
Compostos das esponjas marinhas agem rápido no parasita
Dois compostos extraídos das esponjas marinhas, chamados batzelladinas F e L, se mostraram eficazes contra os principais tipos do parasita da malária. Eles atuaram tanto no Plasmodium falciparum — mais comum na África — quanto no Plasmodium vivax, frequente na América do Sul.
O efeito foi observado em testes com sangue humano infectado e também em camundongos. O diferencial está na rapidez da ação: os compostos matam o parasita ainda nas fases iniciais, antes que ele se multiplique no sangue. Isso reduz as chances de o protozoário desenvolver resistência ao tratamento.
Biodiversidade marinha pode inspirar novos medicamentos
O estudo foi liderado por pesquisadores da USP, UFSCar, Museu Nacional e outros centros científicos, com apoio da Fapesp, CNPq e Capes. Além da eficácia contra a malária, os compostos das esponjas marinhas também demonstraram atividade contra doenças como leishmaniose e doença de Chagas.
De acordo com os cientistas, essas substâncias são metabólitos secundários — compostos produzidos pelas esponjas como forma de defesa natural. Ou seja, o ambiente marinho oferece recursos com funções únicas que podem beneficiar diretamente a saúde humana.
Mudanças climáticas ameaçam essas descobertas
Apesar da descoberta promissora, os pesquisadores alertam que as esponjas marinhas, como a Monanchora arbuscula, estão em risco por causa do aquecimento dos oceanos. O desaparecimento desses organismos pode impedir novas descobertas médicas.
Além disso, as mudanças climáticas estão favorecendo a expansão da malária em diversas regiões, o que torna ainda mais urgente o desenvolvimento de novos tratamentos. A pesquisa reforça o valor da biodiversidade e a importância de preservar os ambientes naturais como fonte de soluções para a saúde global.