Em 2015, o economista paraense Cláudio Martins lançou a Bossapack, visando criar uma linha de mochilas e bolsas que refletisse os valores do artesanato brasileiro e da sustentabilidade. Radicado no Rio de Janeiro, Martins buscava preencher uma lacuna no mercado nacional, dominado por grandes marcas estrangeiras. “Os mercados norte-americano, europeu, asiático, australiano têm grandes marcas de mochilas que vem à mente de todo mundo. No Brasil não tem. Vi uma grande oportunidade de termos uma marca de mochila brasileira”, afirmou Martins.
A Bossapack se destaca por sua abordagem inovadora no uso de materiais. Uma das suas linhas utiliza tecido impermeável, descoberto por Martins em um marketplace de artes indígenas. Este tecido, feito de algodão orgânico com uma camada de látex natural, representa uma tecnologia ancestral para proteção contra a água. O látex utilizado pela Bossapack é extraído de seringueiras na Amazônia, especificamente de quatro trajetos no Pará, conhecidos como Estradas da Seringa. Cada trajeto contribui para a manutenção de cerca de 150 hectares de floresta, com a produção da Bossapack ajudando a preservar aproximadamente 600 hectares.
Martins enfatizou a importância das parcerias no sucesso da Bossapack. A colaboração com a ONG Origens Brasil e a fabricante de produtos de borracha Mercur foram cruciais no desenvolvimento de processos produtivos que respeitassem tanto o meio ambiente quanto as comunidades locais. A Mercur, em particular, desempenhou um papel importante ao adaptar o processo de impermeabilização para ser realizado nas aldeias, após um ano de pesquisa e desenvolvimento.
A empresa também buscou apoio financeiro e técnico de diversas instituições, como a Rede Asta, a Fundação Certi, e o Instituto Ipê, este último financiando a instalação de uma estufa para acelerar o processo de secagem dos tecidos. Esses esforços visam tornar as comunidades indígenas parceiras mais autônomas e eficientes na produção.
Martins ressaltou a importância de respeitar a cultura e os tempos das comunidades com as quais trabalha. “O tempo e a cultura da aldeia são diferentes. Não adianta falar 5 centímetros ou 40 minutos, por exemplo, se os indígenas não têm régua e nem relógio. É através do amor que vou puxar a responsabilidade deles, não é fazendo métrica de tempo e cronograma”, disse.
O impacto da Bossapack vai além da preservação ambiental. A marca tem sido bem-sucedida em engajar jovens das comunidades indígenas, oferecendo alternativas de trabalho que respeitam a cultura local e o meio ambiente. Isso é evidente no crescimento da produção de tecidos e na participação da juventude nas atividades da empresa.
Em conclusão, a Bossapack não só conseguiu estabelecer uma marca de mochilas brasileira no mercado, como também promoveu a sustentabilidade, a cooperação e o respeito pela cultura indígena. Com um crescimento elevado em produção e faturamento, a empresa continua a expandir seu impacto positivo, provando que é possível aliar negócios, artesanato e preservação ambiental de maneira harmoniosa.