O Plano Clima marca uma virada na forma como o Brasil organiza sua resposta ao aquecimento global. Aprovado no Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima, o documento atualiza diretrizes que estavam paradas há mais de uma década e estabelece um horizonte claro até 2035. Ao reunir mitigação e adaptação em um mesmo roteiro, o país tenta alinhar políticas públicas, investimentos privados e compromissos internacionais sob uma lógica única.
Eixo de organização nacional
Nesse sentido, o Plano Clima funciona como um grande organizador das políticas ambientais. De um lado, a Estratégia Nacional de Mitigação reúne oito agendas voltadas à redução de emissões em setores como energia, transportes, indústria, agricultura e cidades. De outro, a Estratégia Nacional de Adaptação articula 16 frentes dedicadas a preparar o país para eventos extremos, como secas prolongadas e chuvas intensas.
Além disso, o Plano Clima serve de base para o cumprimento da meta brasileira no Acordo de Paris. O compromisso prevê cortar as emissões nacionais entre 59% e 67% até 2035, em relação a 2005. Isso significa reduzir o volume anual de gases de efeito estufa de 2,04 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente, registrado em 2022, para até 1,05 bilhão de toneladas.
Plano Clima e impacto nos territórios
Outro ponto de destaque está na participação social. A construção do Plano Clima envolveu consultas públicas, oficinas técnicas e plenárias territoriais, com mais de 24 mil participantes e cerca de mil propostas incorporadas. Para o secretário nacional de Mudança do Clima, Aloisio Lopes de Melo, o plano orienta estados e municípios a adotar modelos urbanos mais eficientes, com foco em transporte coletivo, eletrificação e biocombustíveis.
Ao mesmo tempo, especialistas chamam atenção para os desafios. Marta Salomon, do Instituto Talanoa, observa que a execução prática será determinante. Já Fábio Ishisaki, do Observatório do Clima, aponta que os planos setoriais ainda detalham pouco a redução do uso de combustíveis fósseis.
Assim, mesmo com lacunas, o Plano Clima consolida um ponto de partida mais estável para a política climática brasileira. Ao integrar metas, participação social e compromissos globais, o país passa a ter um mapa mais claro para conciliar desenvolvimento e clima ao longo da próxima década.
