Viver em uma cidade subterrânea pode soar excêntrico à primeira vista. No entanto, no coração do deserto australiano, essa escolha surgiu como resposta direta a um desafio severo: temperaturas que ultrapassam 50 °C. Em Coober Pedy, a paisagem árida esconde uma rotina surpreendentemente confortável. Enquanto a superfície enfrenta calor escaldante e noites frias, a vida abaixo da terra segue em equilíbrio térmico constante.
Confira o vídeo sobre Coober Pedy:
Cidade subterrânea como resposta ao calor extremo
Cerca de 60% dos moradores de Coober Pedy vivem escavados em rochas de arenito e siltito, materiais ricos em ferro e fáceis de moldar. A poucos metros de profundidade, o ambiente mantém cerca de 23 °C durante todo o ano. Dessa forma, a cidade subterrânea dispensa ar-condicionado e reduz o consumo energético, mesmo em uma região isolada do outback australiano.
Além disso, a economia pesa a favor. Casas subterrâneas de três quartos já foram vendidas por valores próximos a 40 mil dólares australianos, bem abaixo dos preços praticados em Adelaide. O conforto térmico vem acompanhado de silêncio, ausência de insetos e proteção natural contra a luminosidade intensa do deserto.
Exemplos ao redor do mundo
Embora Coober Pedy seja um caso atual, a ideia de morar sob a terra é antiga. Regiões como a Capadócia, na Turquia, abrigam cidades subterrâneas escavadas há mais de dois mil anos. Em Derinkuyu, corredores, estábulos e sistemas de ventilação garantiam abrigo contra variações de temperatura e invasões. Em comum, essas experiências mostram como a arquitetura subterrânea oferece estabilidade térmica sem gasto energético elevado.
No entanto, esse modelo funciona melhor em áreas secas. Em regiões úmidas, a ventilação e o controle da umidade exigem técnicas mais complexas. Por isso, a geologia favorável de Coober Pedy explica por que a cidade subterrânea floresceu ali e não se espalhou com a mesma facilidade.
À medida que ondas de calor se tornam mais frequentes, soluções antigas ganham novo valor. Coober Pedy demonstra que adaptação climática pode nascer da observação do território e do uso inteligente dos recursos naturais. Em um mundo cada vez mais quente, olhar para baixo talvez seja parte do caminho adiante.
