Categoria Sustentabilidade

Bioacústica marinha revela recifes vivos e inspira proteção do oceano

A bioacústica marinha transforma sons do oceano em dados científicos e experiências culturais, revelando a saúde dos recifes e impulsionando ações de conservação.

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A bioacústica marinha ganhou visibilidade em uma reportagem especial do Nexo, portal de jornalismo independente reconhecido pela análise aprofundada de temas científicos e ambientais. A publicação mostra como os sons do oceano funcionam como um retrato fiel da vida marinha, revelando que recifes saudáveis formam paisagens sonoras ricas, enquanto áreas degradadas tendem ao silêncio.

Entre os especialistas ouvidos pelo Nexo está João Lucas Leão Feitosa, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Laboratório de Pesquisa em Ictiologia e Ecologia de Recifes (LabPIER). De acordo com o pesquisador, a escuta atenta desses sons permite identificar a presença de espécies, avaliar a diversidade biológica e entender a capacidade de recuperação dos recifes, oferecendo novos caminhos para a proteção do oceano.

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Quando o oceano fala, a ciência escuta

Por meio da bioacústica marinha, cientistas utilizam hidrofones para registrar vocalizações de peixes, golfinhos, baleias e até estalos de crustáceos. Dessa forma, esses registros permitem mapear espécies, compreender comportamentos e acompanhar mudanças ambientais ao longo do tempo. Além disso, estudos mostram que recifes com maior diversidade sonora tendem a atrair larvas e novos organismos, enquanto áreas silenciosas enfrentam dificuldades de regeneração.

Nesse contexto, pesquisadores brasileiros vêm testando estratégias inovadoras. Ao reproduzir sons de ambientes saudáveis em recifes degradados, os cientistas avaliam se o ambiente se torna mais convidativo para a vida marinha. Ao mesmo tempo, o monitoramento acústico ajuda a medir impactos do turismo e da navegação, já que ruídos artificiais podem mascarar a comunicação entre os animais.

“Os sons do oceano funcionam como indicadores da presença dos animais, da diversidade biológica e da saúde do ambiente. Quando um recife se torna silencioso, ele também perde parte da sua capacidade de se recuperar.”
— João Lucas Leão Feitosa, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Laboratório de Pesquisa em Ictiologia e Ecologia de Recifes (LabPIER)

Do laboratório à cultura com a bioacústica marinha

Enquanto a ciência escuta, a arte amplifica essas descobertas. Gravações de baleias e golfinhos passaram a integrar exposições imersivas e composições musicais, conectando dados científicos à emoção humana. Assim, sons captados em profundidade chegam a museus, palcos e espaços públicos, aproximando a sociedade de um universo antes distante.

Projetos culturais ligados à bioacústica marinha ganharam projeção em eventos internacionais e, no Brasil, tiveram como exemplo a Exposição Voz dos Oceanos. Realizada em 2024, em São Paulo, a mostra ocupou uma área de cerca de 900 metros quadrados e reuniu mais de dez mil visitantes em menos de um mês. A experiência apresentou instalações imersivas com trilhas sonoras criadas a partir de sons reais do oceano, captados ao longo da costa brasileira e em expedições marítimas. Ao unir ciência, arte e sensibilização ambiental, a exposição ajudou o público a perceber que o oceano está longe de ser silencioso: ele funciona como um sistema vivo, organizado em coros naturais que revelam a presença, a diversidade e o equilíbrio da vida marinha.

Caminhos que ecoam esperança

Ao traduzir sons em conhecimento e emoção, a bioacústica marinha amplia a forma como cuidamos do oceano. Com dados confiáveis e narrativas sensíveis, ela orienta políticas públicas, inspira educação ambiental e desperta empatia coletiva. Preservar o oceano, portanto, também significa manter viva essa paisagem sonora que sustenta a vida no planeta.