O mapeamento da agroecologia, realizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), analisou 503 experiências em 307 municípios entre abril e junho de 2025. O estudo mostra perdas graves na produção, mas também revela práticas já aplicadas que fortalecem o enfrentamento climático. Além disso, aponta caminhos que podem orientar políticas públicas e investimentos sustentáveis no país.
mapeamento da agroecologia: perdas e impactos
Os resultados do mapeamento da agroecologia confirmam que as mudanças climáticas afetam diretamente a mesa da população. 56,3% das experiências relataram redução da produção e 48,1% apontaram perda de alimentos. Além disso, 66% afirmaram que os efeitos ficaram mais visíveis nos últimos dez anos. Nesse cenário, emergem ainda sinais de alteração ambiental.
- 73,4% relataram aumento da temperatura.
- 70,8% perceberam mudança no regime de chuvas.
- 36,2% notaram perda de espécies vegetais nativas.
Esses dados, somados às menções a doenças e sofrimento psicológico, reforçam a urgência de respostas coletivas e políticas mais consistentes.
Práticas que fortalecem territórios
Por outro lado, as experiências demonstram soluções práticas e replicáveis. Entre elas destacam-se o manejo e conservação do solo (70,7%), a diversificação produtiva (63%) e o plantio de árvores (56,9%). Além disso, surgem práticas como a compostagem (52,7%), o cuidado da água (42%) e o tratamento ecológico de esgoto (26,2%). Esses exemplos combinam adaptação, mitigação e promoção da saúde ambiental.
As iniciativas, ao mesmo tempo, garantem alimentos mais saudáveis, fortalecem a biodiversidade e criam condições para novos programas de compras públicas. Assim, o mapeamento da agroecologia oferece base concreta para gestores que buscam escalar o que já funciona.
Lideranças e perspectivas
O levantamento mostra a diversidade dos atores envolvidos. Agricultores familiares, coletivos urbanos, povos indígenas e comunidades quilombolas lideram iniciativas em vários estados. Além disso, mulheres estão à frente em mais de 35% dos casos, e pessoas negras em 36%, com destaque para mulheres negras em 19% das experiências. Essa diversidade fortalece as redes e evidencia protagonismos historicamente invisibilizados.
Segundo Helena Lopes (Fiocruz), coordenadora do estudo, “há poucos dados sistematizados sobre a relação entre agroecologia e justiça climática”. Nesse sentido, a pesquisa representa um marco ao conectar evidências científicas, saberes locais e práticas de justiça social.
Caminhos futuros do mapeamento da agroecologia
Os resultados serão apresentados no 13º Congresso Brasileiro de Agroecologia, entre 15 e 18 de outubro de 2025, em Juazeiro (BA). Em seguida, versões em outros idiomas circularão na Cúpula dos Povos, paralela à COP30, em Belém (10 a 21 de novembro de 2025). Além disso, uma segunda etapa está programada para janeiro a setembro de 2026, aprofundando análises em redes regionais.
Essas agendas ampliam o alcance do mapeamento da agroecologia e abrem espaço para que políticas mais justas avancem nos territórios. Se apoiadas por governos e financiadores, essas práticas poderão acelerar a transição agroecológica no Brasil e inspirar novos compromissos internacionais.