A literatura pode ser um refúgio diante do esquecimento. É essa a proposta de Coisas presentes demais, novo livro sobre Alzheimer da escritora mineira Flávia Péret, publicado pela Relicário Edições. Segundo a Agência Brasil, a obra nasce da reaproximação com sua avó, hoje com 94 anos, diagnosticada com Alzheimer, e transforma a dor em narrativa literária marcada por afeto e reflexão.
A memória como enigma e reencontro
Inspirada em fragmentos da vida da avó, Péret constrói um romance que une realidade e ficção. Em capítulos curtos, a autora explora lembranças, silêncios e até gestos cotidianos que revelam o impacto do Alzheimer sobre a identidade familiar. Além disso, o episódio marcante que desencadeou a escrita foi a destruição da horta da avó em Mariana (MG), um ato inexplicável que trouxe à tona os primeiros sinais da doença.
A narrativa retrata o reencontro de uma neta que visita semanalmente sua avó em uma casa de repouso. Entre conversas e silêncios, surge uma reflexão sobre memória, esquecimento e o enigma de viver com a fragilidade da lembrança. Por isso, escrever tornou-se para a autora uma forma de resgatar laços e dar novo sentido ao presente.
Um livro sobre Alzheimer e afeto familiar
Mais que uma história íntima, o livro sobre Alzheimer aborda questões sociais e de saúde pública. Péret aponta que muitas famílias ainda têm vergonha de assumir o diagnóstico e que falar sobre o tema é essencial para quebrar tabus. Além disso, a autora lembra que hábitos de vida, alimentação e cuidados podem contribuir para o envelhecimento mais saudável, mas que o debate precisa alcançar toda a sociedade.
A obra também provoca reflexões literárias, dialogando com pensadores como Roland Barthes e Maria Rita Kehl. Dessa forma, entre memórias pessoais e referências culturais, o livro transforma um tema doloroso em espaço de criação poética, mostrando que a literatura pode ser ponte entre gerações.
Caminhos de esperança
Coisas presentes demais chega como um gesto de resistência e ternura. Ao transformar sua experiência familiar em literatura, Flávia Péret mostra que o Alzheimer não precisa ser apenas perda: pode ser também um convite à empatia e ao reencontro. Assim, o livro sobre Alzheimer se afirma como instrumento de conscientização e acolhimento, lembrando que a memória pode desaparecer, mas o afeto permanece.