A relação entre dieta mediterrânea e depressão ganhou força com o estudo americano PREDIDEP, que acompanhou 196 pacientes durante dois anos. O ensaio avaliou se esse padrão alimentar, reforçado com azeite extravirgem, poderia prevenir recaídas depressivas. Embora não tenha reduzido os novos episódios de forma significativa, os resultados mostraram algo essencial: os pacientes que seguiram a dieta apresentaram menos sintomas depressivos, mais energia e maior vitalidade.
Segundo o médico Pedro Andrade, especialista em Medicina Preventiva, o estudo reforça que a alimentação pode ser usada não apenas como tratamento complementar, mas também como estratégia de prevenção em saúde mental.
Por que a dieta faz diferença na depressão?
Pesquisadores destacam que a dieta mediterrânea atua em múltiplos mecanismos do cérebro. Ela reduz inflamação crônica, melhora a plasticidade neural por meio do BDNF e equilibra neurotransmissores graças a nutrientes como magnésio, vitaminas do complexo B, ômega-3 e polifenóis. É como transformar os curtos-circuitos do sistema nervoso em energia limpa e estável.
Nos acompanhamentos de 4, 8 e 20 meses, os voluntários da dieta mostraram reduções consistentes nos escores de depressão, especialmente entre pessoas acima de 60 anos.
Uma versão brasileira da dieta mediterrânea
Pedro Andrade lembra que não é preciso importar hábitos para colher benefícios. O azeite segue como “ouro líquido”, mas o Brasil também oferece alternativas locais, como óleo de abacate, castanha-do-pará, baru e sardinha. Frutas como jabuticaba, maracujá e goiaba podem substituir opções europeias, mantendo frescor e riqueza nutricional.
Para o especialista, adaptar esse estilo alimentar à biodiversidade brasileira é um caminho viável para promover saúde mental em larga escala. “Quando pensamos em depressão, não devemos olhar apenas para medicamentos. A mesa pode ser parte do tratamento e, sobretudo, da prevenção”, afirma.
O estudo PREDIDEP sugere que a dieta mediterrânea não impede todas as recaídas, mas ajuda a suavizar o impacto emocional do dia a dia. A perspectiva de unir alimentação saudável a práticas como sono adequado, movimento e acompanhamento médico traz esperança.
Para Andrade, o recado é claro: nutrir o cérebro diariamente pode ser tão importante quanto tratar a doença quando ela aparece.