Após 800 anos de silêncio, o órgão cristão mais antigo do mundo voltou a soar em Jerusalém. O reencontro aconteceu no Mosteiro de São Salvador, na Cidade Velha, quando suas melodias ecoaram entre sinos distantes e muralhas históricas. Para especialistas e fiéis, ouvir novamente esse som foi como atravessar séculos em um instante.
O instrumento foi descoberto em 1906, em Belém, durante obras franciscanas. Enterrado pelos Cruzados no século XII para protegê-lo de invasores, o órgão permaneceu soterrado por séculos. Arqueólogos encontraram mais de 200 tubos de bronze, além de sinos e peças originais, revelando um tesouro medieval preservado no tempo.
Da escavação à restauração
A redescoberta ganhou novo impulso em 2019, quando uma equipe internacional iniciou a restauração. O projeto reuniu tubos originais ainda funcionais com réplicas produzidas segundo técnicas medievais, devolvendo vida às melodias litúrgicas.
“Foi emocionante ouvir como os tubos renasceram após tantos séculos de silêncio”, disse Koos van de Linde, especialista em órgãos históricos, em entrevista à Associated Press. Para ele, a iniciativa cumpriu o desejo dos Cruzados de preservar esse legado.
Além disso, o trabalho envolveu o construtor de órgãos Winold van der Putten e o músico David Catalunya, que executou o canto medieval Benedicamus Domino Flos Filius, trazendo à vida uma sonoridade que parecia perdida para sempre.
O legado do órgão cristão mais antigo do mundo e a preservação da música medieval
O órgão cristão mais antigo do mundo ficará permanentemente no Museu Terra Sancta, em Jerusalém, cuja inauguração completa está prevista até 2028. Contudo, o projeto vai além da preservação: pesquisadores planejam criar cópias do instrumento para igrejas em toda a Europa, permitindo que tradições musicais do século XI ressoem novamente em celebrações contemporâneas.
“É como encontrar um dinossauro vivo, algo que jamais imaginávamos ouvir de novo”, afirmou Álvaro Torrente, diretor do Instituto Complutense de Ciências Musicais, ao The Washington Times.
Assim, mais do que um feito arqueológico, o ressurgimento desse órgão conecta passado e presente. Ele prova que a esperança medieval de preservar sons de fé não se perdeu — apenas esperou séculos para, enfim, voltar a emocionar.