No coração de Vitória, onde as marés se entrelaçam com séculos de história, pulsa um tesouro silencioso e vital: o ecossistema dos manguezais. O Espírito Santo se destaca como exemplo de reconciliação com a natureza — mostrando que proteger essas florestas costeiras é, antes de tudo, preservar a vida.
O ecossistema dos manguezais é muito mais do que um ambiente alagado. Ele é um santuário que captura até cinco vezes mais carbono que as florestas terrestres, reduz até 99% da força das ondas e abriga mais de 1.500 espécies. Restaurá-lo pode significar a produção de 60 trilhões de peixes comestíveis por ano. Mesmo ocupando apenas 1% da área nacional desse bioma, os manguezais capixabas têm impacto profundo na vida, cultura e segurança alimentar do estado.
Berçário de espécies e cultura capixaba
O ecossistema dos manguezais funciona como um coração verde pulsando à beira-mar, filtrando sedimentos, nutrindo a biodiversidade e amortecendo os efeitos das tempestades. Mas ele também alimenta memórias e histórias. Na Ilha das Caieiras, a pesca artesanal e o ofício das desfiadeiras de siri resistem ao tempo, sustentando famílias e mantendo viva a tradição capixaba.
Além disso, para compreender ainda mais a importância do ecossistema dos manguezais e seu papel crucial na natureza, assista ao vídeo a seguir:
O manguezal é um lugar onde o ser humano encontra sua ancestralidade e depende dela para seguir.”
Essas florestas salobras oferecem equilíbrio ecológico, renda sustentável e alimento de qualidade, tudo isso enquanto protegem o litoral de eventos climáticos extremos.
Ecossistema dos manguezais: de território perdido à recuperação ambiental
A capital capixaba, historicamente, transformou sua paisagem à custa do manguezal. Estima-se que 23% das vias da cidade foram erguidas sobre áreas alagadas ou marinhas, e mais de 120 hectares do ecossistema dos manguezais desapareceram em apenas 45 anos. A ideia equivocada de que os manguezais eram “insalubres” moldou esse avanço urbano.
Felizmente, esse paradigma começou a mudar nos anos 80, com a inclusão dos manguezais como Áreas de Preservação Permanente (APPs) no Código Florestal, revisto em 2012. Vitória fortaleceu essa proteção com legislações próprias e iniciativas concretas. O Parque Dom Luiz Gonzaga Fernandes, no bairro Redenção, é um marco dessa virada: abriga o equivalente a 63 campos de futebol de manguezal protegido, representando cerca de 15% da cobertura vegetal da cidade.
Além disso, pesquisas da UFES mostram que as ações de educação ambiental, fiscalização e conservação têm revertido parte dos danos históricos, reforçando a resiliência desse ecossistema.
Ecossistema dos manguezais: desafios e esperança coletiva
Ainda assim, desafios persistem. O esgoto doméstico lançado de forma irregular continua impactando áreas preservadas. Embora Vitória tenha 92% de cobertura no tratamento de esgoto, a ligação correta dos imóveis à rede ainda é um obstáculo.
O gerente da CESAN, André Luiz Lima, destaca que o investimento de R$ 2,2 bilhões pretende eliminar os lançamentos irregulares por completo, principalmente em áreas críticas como a Baía de Vitória. Projetos como o Orla Noroeste, em parceria com a prefeitura, reforçam essa missão com foco em saneamento, urbanismo e restauração ambiental.
Contudo, nenhuma política pública será suficiente sem a participação ativa da população. A recuperação do ecossistema dos manguezais depende de cada conexão feita corretamente à rede de esgoto, de cada morador que respeita seu entorno e de cada ação educativa que forma novas gerações conscientes.
Portanto, proteger os manguezais é muito mais do que uma medida ambiental. É um ato de justiça com o passado, de esperança para o presente e de compromisso com o futuro.