O boto-do-yangtze, mamífero aquático em risco crítico de extinção, ganhou um novo aliado em sua conservação: a literatura clássica chinesa. Pesquisadores na China analisaram mais de 700 poemas, datados entre os séculos VIII e XIX, para entender onde e quando o animal foi avistado historicamente. Essa abordagem criativa trouxe novas informações sobre o habitat original do boto, permitindo ampliar as estratégias de proteção da espécie.
Atualmente, restam menos de 1.300 exemplares do boto-do-yangtze na natureza. Ao longo das últimas quatro décadas, a espécie sofreu forte declínio populacional. Por isso, reconstruir sua distribuição histórica é fundamental para guiar ações futuras de conservação.
Poemas revelam dados valiosos sobre o boto-do-yangtze
Como os registros científicos sobre o boto-do-yangtze só começaram a ser produzidos nas últimas décadas, muito de sua história se perdeu. Para contornar essa lacuna, os pesquisadores recorreram à poesia clássica. Ao examinar cuidadosamente os versos, foi possível identificar locais e datas aproximadas de avistamentos ao longo do Rio Yangtze.
Essa análise mostrou que a área de ocorrência da espécie do boto-do-yangtze diminuiu 65% nos últimos 1.200 anos. Além disso, os dados revelaram que o recuo mais expressivo aconteceu no século passado, principalmente devido à pesca ilegal, poluição e construção de barragens.
Como resultado, os cientistas agora podem identificar com mais precisão os locais onde o boto pode voltar a viver — o que é essencial para planejar ações como reintrodução em áreas protegidas.
Tradição e ciência se unem para conservação
Embora pareça inusitado, usar a literatura como fonte de dados ambientais tem se mostrado promissor. Nesse estudo, os poemas antigos funcionaram como testemunhos indiretos da presença do boto-do-yangtze em diversas regiões da bacia do Yangtze.
A partir disso, os pesquisadores conseguiram mapear a presença histórica do boto-do-yangtze não só no rio principal, mas também em afluentes e lagos. Com essas informações em mãos, é possível orientar projetos de reprodução em cativeiro e soltura controlada, que já vêm ocorrendo desde 1996.
Além do valor ecológico, o boto-do-yangtze desempenha um papel importante no equilíbrio do ecossistema. Ele ajuda a controlar populações de peixes e participa da ciclagem de nutrientes ao longo do rio.
Um novo horizonte para o boto-do-yangtze
Apesar do otimismo, os pesquisadores reforçam que os dados históricos devem ser usados com responsabilidade. A interpretação incorreta pode levar a decisões equivocadas. Ainda assim, a integração entre cultura e ciência representa uma inovação que abre caminhos promissores.
A boa notícia é que o boto-do-yangtze ainda pode ser salvo. Com base em informações literárias e científicas, cresce a possibilidade de proteger essa espécie única. Assim, a poesia, que por séculos celebrou a beleza do Yangtze, agora ajuda a preservar a vida que habita suas águas.