A Embrapa Agroindústria Tropical (CE) está à frente de uma inovação que promete transformar, com IA, o manejo da irrigação no Brasil. A instituição desenvolveu um dispositivo autônomo de baixo custo, capaz de monitorar o estresse hídrico das plantas por meio da inteligência artificial. Esse avanço pode beneficiar diretamente médios e pequenos agricultores, proporcionando um manejo de irrigação mais eficiente e preciso.
Irrigação com IA: como funciona o dispositivo?
O novo dispositivo da Embrapa utiliza IA para analisar dados coletados em tempo real, como radiação solar, umidade do ar e temperatura das folhas. Com esses dados, o sistema identifica o nível de hidratação das plantas e, em caso de necessidade, aciona automaticamente os sistemas de irrigação. Essa automação promete reduzir custos, otimizar o uso de água e mitigar os impactos ambientais causados pelo desperdício de recursos hídricos.
O sistema de sensoriamento é composto por três principais dispositivos: o sensor de temperatura das folhas, o psicrômetro aspirado e o piranômetro. O sensor de temperatura utiliza termistores de vidro para medir a temperatura das folhas em comparação com a temperatura do ar e a umidade, com dados coletados a cada minuto. Esses dados são transmitidos via LoRa, um protocolo de radiofrequência de baixo consumo de energia, para um servidor central.
O impacto da IA na agricultura: mais do que tecnologia, uma solução acessível
A inovação reside não apenas na tecnologia, mas na acessibilidade que ela promete. Otto Sousa, engenheiro da computação e responsável pelo desenvolvimento da tecnologia na Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca que o dispositivo foi projetado para ser economicamente viável. Isso representa uma revolução no acesso à tecnologia de irrigação, tradicionalmente restrita a grandes produtores devido ao alto custo dos equipamentos importados.
A parceria entre a Embrapa, a UFC, o Laboratório de Inovação Tecnológica e Experimentação Científica Instituto Atlântico (Litec) e a empresa 3V3 Tecnologia visa comercializar essa inovação nos próximos dois anos. A expectativa é que a nova tecnologia não só auxilie na sustentabilidade da produção agrícola, mas também democratize o acesso às ferramentas de ponta no campo.
Validação em campo: milho BRS Gorutuba como teste
Para validar a eficácia da tecnologia, foi conduzido um experimento com plantas de milho da variedade BRS Gorutuba, cultivadas em uma casa de vegetação no interior do Ceará. Com sensores instalados e monitoramento contínuo, o dispositivo demonstrou sua capacidade de distinguir entre estados de boa hidratação e déficit hídrico. Esses resultados confirmam o potencial do dispositivo para otimizar a irrigação de diversas culturas, minimizando o desperdício de água.
Próximos passos: rumo à comercialização
A professora Atslands Rego da Rocha, do Departamento de Engenharia de Teleinformática da UFC, afirma que a próxima etapa envolve a criação da versão 2.0 do hardware, além do aumento do banco de dados para aprimorar a modelagem com IA. A expectativa é que uma versão comercial esteja disponível em até dois anos, ampliando o acesso dos agricultores a essa solução.
Reconhecimento: premiação em congresso nacional
O estudo por trás do dispositivo de irrigação com IA foi recentemente reconhecido no 44º Congresso da Sociedade Brasileira de Computação. O trabalho foi premiado na categoria “Best Paper” durante o Workshop de Computação Aplicada à Gestão do Meio Ambiente e Recursos Naturais.