Um estudo recente publicado na revista Science Translational Medicine traz esperança para o tratamento de picadas de cobra com um anticorpo sintético, denominado 95Mat5, que se mostrou eficaz em neutralizar as toxinas de múltiplas espécies. Realizada pela Scripps Research, essa pesquisa indica a possibilidade de um antiveneno universal contra as cerca de 200 espécies de cobras venenosas identificadas globalmente. A inovação poderia transformar o tratamento de picadas de cobra, especialmente em regiões onde esse risco é mais prevalente.
Em 21 de fevereiro, os resultados divulgados revelaram que o 95Mat5 conseguiu proteger ratos de toxinas presentes em cobras de continentes como África, Ásia e Austrália. Este desenvolvimento é particularmente significativo para países de baixa e média renda, que enfrentam o maior número de mortes e lesões por essas picadas.
A busca por um antiveneno capaz de agir contra diversas toxinas segue um caminho semelhante ao das pesquisas por uma vacina contra o HIV, onde os cientistas da Scripps se inspiraram. A estratégia envolveu a identificação de anticorpos humanos que pudessem neutralizar as variações nas toxinas de diferentes cobras. A partir de um conjunto de cerca de 100 bilhões de anticorpos artificiais, o 95Mat5 emergiu como o mais promissor.
O estudo também destacou a mortalidade causada por picadas de cobra na Ásia e África, com mais de 100 mil mortes anuais, um número superior ao de muitas doenças tropicais. Os antivenenos existentes, derivados de anticorpos de cavalos ou ovelhas, geralmente são específicos para uma única espécie de cobra, limitando sua eficácia. Além disso, a variação entre os venenos das cobras exige um tratamento específico para cada tipo de picada, uma informação nem sempre disponível.
A pesquisa conduzida identificou uma toxina, conhecida como toxinas de três dedos (3FTx), comum a várias espécies de cobras venenosas, como mambas e cobras kraits. O anticorpo 95Mat5, ao ser testado com essa toxina, protegeu ratos da paralisia e da morte, mesmo em casos de exposição a venenos particularmente letais, como o da mamba-negra. Contudo, contra o veneno da cobra-real, o anticorpo apenas conseguiu atrasar o efeito letal, indicando a necessidade de uma combinação de anticorpos para uma proteção mais ampla.
A visão dos pesquisadores, liderada por Joseph Jardine, é que um único antiveneno universal poderia substituir os múltiplos antídotos específicos para cada espécie, simplificando a logística e aumentando a eficácia do tratamento de picadas de cobra em todo o mundo.