Nos becos movimentados da Rocinha, a reciclagem de óleo de cozinha ganhou rosto e propósito. Ali, um grupo de mulheres transforma o que antes poluía em fonte de renda e aprendizado. Em vez de o óleo usado ir para o ralo, ele é recolhido e convertido em sabões ecológicos e detergentes biodegradáveis. A iniciativa, chamada Óleoponto, nasceu em parceria com o Sabão do Morro e conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Desde 2024, o projeto já recolheu mais de 14 mil litros de óleo, mostrando que pequenas ações locais podem gerar grandes impactos ambientais.
Da coleta ao sabão: o ciclo da reciclagem de óleo de cozinha
Por meio de máquinas inteligentes instaladas em pontos estratégicos, a reciclagem de óleo de cozinha se tornou acessível e prática. Os moradores entregam o resíduo usado e recebem, em troca, produtos de limpeza ecológicos. Assim, o ciclo se completa e movimenta a economia da própria comunidade. As mulheres da Rocinha coordenam cada etapa — da filtragem ao empacotamento — e também ensinam outras a fazer o mesmo. “Nosso público-alvo são elas”, explica Marcelo Santos, fundador do projeto. “Queremos dar a vara para que possam pescar o próprio peixe.” Dessa forma, o que era descarte se converte em autonomia e aprendizado contínuo.
Sustentabilidade, ciência e inclusão social caminhando juntas
A reciclagem de óleo de cozinha não é apenas uma ação ambiental: é também uma ponte para a inclusão social. Cada litro recolhido impede a contaminação de até 25 mil litros de água, segundo o Conselho Regional de Química (CRQ). Além disso, o processo é certificado e segue padrões científicos rigorosos, o que garante a segurança e a qualidade dos produtos. Enquanto isso, as participantes ganham acesso a oficinas, aprendem química básica e descobrem novas formas de empreender. Por isso, o projeto tornou-se símbolo de uma ecologia mais humana, que começa na cozinha e se espalha pelas vielas da cidade.
Quando a reciclagem de óleo de cozinha inspira outras comunidades
O reconhecimento do Óleoponto ultrapassou os limites da Rocinha. Graças aos resultados positivos, a iniciativa recebeu investimentos públicos e passou a estudar novos pontos de reciclagem de óleo de cozinha em outras regiões. Segundo o vice-governador Thiago Pampolha, o projeto “prova que sustentabilidade e economia popular podem andar de mãos dadas”. Além disso, a equipe planeja transformar o modelo em uma franquia social, levando a ideia a outras comunidades e ampliando o alcance da economia circular.
Um futuro que nasce das mãos de quem cuida
O sucesso da reciclagem de óleo de cozinha na Rocinha revela mais do que uma prática ambiental: mostra o poder da coletividade e da educação. A cada litro recolhido, menos água é poluída e mais mulheres conquistam independência financeira. Entretanto, o maior legado está no exemplo — o de uma comunidade que ensina o país a cuidar do meio ambiente com criatividade e afeto. Ao transformar resíduo em oportunidade, as mulheres da Rocinha provam que sustentabilidade é, antes de tudo, uma forma de amor pelo lugar onde se vive.
