Novo estudo indica que a terapia contra febre amarela pode ganhar uma alternativa inédita após o Instituto Butantan e a empresa americana de biotecnologia Mabloc avançarem no desenvolvimento de um anticorpo experimental. A pesquisa avaliou o MBL-YFV-01 em ensaios pré-clínicos e mostrou que a dose de 50 mg/kg eliminou o vírus no sangue e evitou quadros graves, conforme dados publicados pela Science Translational Medicine. O avanço coincide com a escalada recente da doença no Brasil, que registrou 119 casos e 47 mortes em 2025.
Embora os testes tenham ocorrido apenas em animais, o instituto afirma que o resultado abre espaço para uma terapia voltada a moradores de áreas endêmicas. O foco está em pessoas infectadas sem a vacina e que precisam de outra forma de proteção. Para reforçar esse diagnóstico inicial, o Butantan informa que o medicamento foi descoberto com apoio da plataforma BRAID™, que usa Inteligência Artificial (IA) para selecionar anticorpos virais. Essa abordagem terapêutica reduz prazos de triagem e melhora a precisão das análises.
Segundo Cristiano Gonçalves, diretor de Inovação e Licenciamento de Tecnologia do instituto, apesar de o anticorpo ter se mostrado muito promissor nos estudos pré-clínicos, será preciso avançar para os ensaios clínicos em humanos para estabelecer de forma clara a eficácia e o cronograma de desenvolvimento da nova terapia contra febre amarela. A fala reforça que qualquer expectativa sobre desempenho futuro dependerá das etapas formais de segurança e eficácia.
Terapia contra febre amarela e cenário epidemiológico
O interesse por abordagem terapêutica contra a febre amarela cresce em um momento de atenção na América Latina, segundo boletins da Opas. A cobertura vacinal permanece baixa em vários municípios, o que amplia a exposição de moradores de áreas rurais. Como consequência, aumentam as buscas por soluções que reforcem a imunização e reduzam a dependência exclusiva da vacina.
Nesse ambiente, o estudo do Butantan surge como opção potencial para atender populações vulneráveis, reforçando a busca por um recurso terapêutico contra febre amarela. A aplicação única do anticorpo nos testes pré-clínicos favoreceu respostas rápidas e controle viral amplo, características valorizadas em doenças de evolução acelerada. Esse desenho pode ganhar relevância em surtos localizados, quando a vacinação ocorre depois da infecção.
Novas tecnologias
Além disso, a pesquisa também mostra a entrada mais forte de IA no setor de biotecnologia. A plataforma BRAID™ usa simulações e buscas estruturadas para identificar anticorpos com maior afinidade viral. Dessa forma, esse processo acelera a triagem e permite formar terapias com base em padrões localizados em bancos de dados. O método ajuda laboratórios a reduzir ciclos de experimentação e a direcionar recursos para moléculas mais promissoras.
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Caminho clínico e novo recurso terapêutico
Essa abordagem terapêutica pode alterar a resposta à febre amarela se a eficácia se repetir em humanos, já que complementa a vacinação e amplia a proteção disponível. A tendência internacional aponta para integração maior entre IA e imunoterapia em doenças transmitidas por vetores, e isso estimula novos estudos no país. À medida que os casos avançam, a terapia contra febre amarela deve entrar no radar das autoridades de saúde como alternativa emergente para reduzir internações e conter a expansão de surtos.
