Aos 117 anos, Maria Branyas Morera ainda acreditava que sua história poderia ajudar a ciência. Antes de morrer em 2024, a mulher mais velha do mundo abriu as portas de sua rotina e de seu corpo para pesquisadores da Universidade de Barcelona. A equipe do geneticista Manel Esteller quis entender o que tornava Branyas parte do grupo dos supercentenários — pessoas que vivem além dos 110 anos e desafiam as estatísticas da biologia. O estudo, publicado pelo InvestNews, oferece um retrato emocionante de como o corpo humano pode se manter jovem por mais tempo do que imaginamos.
O DNA dos supercentenários
As análises mostraram que o genoma de Maria Branyas abrigava variações associadas à saúde cardiovascular, cerebral e imunológica. Segundo Esteller, suas células “se comportavam como se fossem 23 anos mais jovens”. Essa diferença biológica ajuda a explicar por que os supercentenários vivem, em média, três décadas além da expectativa da população local. Mas o segredo não estava apenas nos genes: a idade biológica reduzida se revelou uma sinfonia entre genética, estilo de vida e equilíbrio emocional.
Estilo de vida e microbioma dos supercentenários
Branyas nunca fumou, evitava álcool e seguia uma dieta mediterrânea rica em azeite, iogurte e peixe. Tinha colesterol baixo e praticava pequenas rotinas de autocuidado. No intestino, seu microbioma — o conjunto de bactérias que ajudam na digestão e protegem o corpo — lembrava o de uma pessoa décadas mais jovem. Essa diversidade microbiana, com predominância de bactérias anti-inflamatórias, é um dos pontos-chave que os cientistas identificam nos supercentenários. Quando há menos inflamação, o envelhecimento celular desacelera.
O que a ciência aprende com os supercentenários
Para os pesquisadores, compreender o que diferencia esse grupo é uma oportunidade única. Estudos como o de Esteller e seus colegas podem orientar terapias antienvelhecimento baseadas em genes e, ao mesmo tempo, reforçar o valor de hábitos saudáveis. Ainda assim, o pesquisador Austin Argentieri, do Hospital Geral de Massachusetts, lembra que cada supercentenário é um caso singular. O desafio científico está em transformar histórias excepcionais em conhecimento aplicável a toda a humanidade.
Horizonte de longevidade
A genética explica parte do mistério, mas a vida de Maria Branyas mostra que escolhas cotidianas importam. Ao cuidar da alimentação, manter laços afetivos e cultivar a serenidade, ela demonstrou que o envelhecimento pode ser visto não como perda, mas como conquista. Hoje, os cientistas continuam a estudar supercentenários no mundo inteiro, buscando desvendar como a combinação entre biologia e comportamento pode redefinir os limites da vida humana. O segredo, ao que tudo indica, está em viver com curiosidade e equilíbrio — dois ingredientes que parecem eternos.