A Butantan-DV, vacina da dengue brasileira, alcançou nesta quarta-feira (26/11) a etapa decisiva para o registro definitivo após a Anvisa concluir a avaliação técnica do imunizante. Com a assinatura do Termo de Compromisso em São Paulo, a agência autoriza o andamento administrativo final, enquanto o Instituto Butantan confirma que já possui mais de 1 milhão de doses disponíveis para o PNI. Esse avanço nasce de um estudo nacional que manteve proteção ao longo de mais de cinco anos após uma única aplicação, segundo especialistas.
O imunizante deve começar a ser aplicado em dezembro, segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. No primeiro terço da pesquisa, a vacina Butantan-DV demonstrou resultados consistentes em mais de 16 mil voluntários de 14 estados. O ensaio de fase 3 registrou eficácia geral de 74,7% e proteção de 91,6% contra formas graves, além de impedir hospitalizações entre pessoas de 12 a 59 anos.
A vacina protege contra os quatro tipos de vírus da doença (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4).
Butantan-DV: vacina dengue inicia expansão para novas idades
De acordo com o pediatra Renato Kfouri, “a eficácia elevada e a produção nacional tornam o imunizante ainda mais valioso para o país”. A formulação inclui os quatro sorotipos conhecidos do vírus, o que amplia o alcance da proteção.
Ao longo da análise, o imunizante Butantan-DV também se destacou por oferecer vantagens logísticas importantes. Por ser de dose única, facilita campanhas, amplia adesão e acelera respostas em emergências sanitárias. Kfouri explica que “a diferença aparece justamente na possibilidade de aplicar uma única dose, o que impacta a cobertura vacinal”. As reações observadas foram leves, como dor local, fadiga e vermelhidão, enquanto eventos graves foram raros e resolveram sem complicações.
A Anvisa já autorizou estudos com adultos de 60 a 79 anos, enquanto dados sobre crianças de 2 a 11 anos permanecem em avaliação. Além disso, para ampliar o acesso a vacina da dengue, o Butantan fechou parceria com a empresa chinesa WuXi, que permitirá entregar cerca de 30 milhões de doses em 2026.
Avanço da ciência impulsiona nova etapa contra a dengue
Até então, o único imunizante contra a dengue oferecido pelo SUS era o Qdenga, produzido pela farmacêutica japonesa Takeda.
Por ser fabricada no exterior e aplicada em duas etapas, a vacina japonesa foi direcionada apenas a crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos — faixa etária que, após os idosos, registra mais internações pela doença. Além disso, a Anvisa não autorizou seu uso para pessoas acima de 60 anos.
A vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan não substitui o imunizante da Takeda. O Ministério da Saúde mantém um contrato com a farmacêutica japonesa para o fornecimento de 18 milhões de doses.
O Brasil se aproxima de uma estratégia mais ágil com a dose única da Butantan-DV, enquanto especialistas ressaltam que a combinação entre eficácia, segurança e produção local ajuda a construir um cenário mais preparado diante da dengue.
