A liderança tecnológica da China deixou de ser uma projeção distante e passou a se afirmar como um dos fenômenos centrais da ciência contemporânea. Segundo um levantamento do Instituto Australiano de Política Estratégica (ASPI), o país asiático ocupa a primeira posição em quase 90% das áreas tecnológicas analisadas. Esse avanço indica uma mudança profunda na distribuição global do conhecimento. Além disso, o dado chama atenção não apenas pelo volume, mas também pela rapidez com que o país se consolidou em menos de duas décadas.
Liderança tecnológica da China em áreas avançadas
O estudo analisou mais de 9 milhões de publicações científicas produzidas entre 2020 e 2024. A análise concentrou o foco nos 10% de artigos mais citados em cada área. Nesse recorte, a liderança tecnológica da China aparece em 66 das 74 frentes avaliadas. Entre elas estão energia nuclear, biologia sintética e pequenos satélites espaciais. Em contraste, os Estados Unidos lideram em oito campos, como computação quântica e geoengenharia. Enquanto isso, países europeus mantêm presença relevante em nichos específicos do desenvolvimento tecnológico global.
Segundo a pesquisadora Ilaria Mazzocco, consultora do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), esse avanço reflete uma estratégia consistente de investimento em pesquisa e desenvolvimento. Para ela, a tendência geral não causa surpresa. No entanto, chama atenção a amplitude da liderança tecnológica da China em tecnologias emergentes. Essas áreas, por sua vez, concentram hoje a maior atenção internacional.
Produção científica e impacto global da China
Além das primeiras posições, o relatório mostra que a liderança tecnológica da China convive com um ecossistema científico mais distribuído. Alemanha, França e Itália aparecem com forte produção acadêmica. Quando consideradas em conjunto, essas nações colocariam a União Europeia na liderança de quatro áreas tecnológicas. Além disso, Coreia do Sul, Holanda, Reino Unido, Índia e Singapura figuram entre os principais polos globais de pesquisa.
O Brasil também aparece com participação expressiva em alguns campos. Entre eles estão biocombustíveis, sensores multiespectrais e manufatura de biomateriais. Esses dados indicam que a circulação de conhecimento segue aberta a diferentes países. Ainda assim, o ASPI aponta que, em áreas como inteligência artificial generativa e computação em nuvem, a protagonismo tecnológico da China se traduz em alta concentração de artigos de impacto produzidos por instituições chinesas. Por isso, o debate sobre equilíbrio científico internacional segue ativo.
Por fim, a liderança tecnológica da China redefine parâmetros de cooperação, competição e intercâmbio acadêmico no século XXI. Em vez de um cenário fechado, o estudo sugere um ambiente em transformação. Nesse contexto, escolhas estratégicas em ciência podem ampliar vozes, diversificar centros de excelência e abrir novas rotas para a inovação compartilhada.
