Categoria Economia

Niilismo financeiro na geração Z expõe o fim da promessa de enriquecer devagar

O niilismo financeiro na geração Z reflete a perda de confiança em poupança, carreira linear e casa própria. Jovens adotam riscos altos como resposta a um sistema que deixou de oferecer previsibilidade.

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O niilismo financeiro na geração Z surge em um cenário no qual estudar, poupar e planejar já não garantem estabilidade. Para muitos jovens, as regras tradicionais de ascensão econômica perderam validade. O resultado é uma relação menos reverente com o dinheiro, vista não como construção paciente, mas como aposta diante de um sistema percebido como imprevisível.

Segundo a revista Exame, esse conceito ganhou forma em 2021, quando o analista Demetri Kofinas descreveu a sensação coletiva de que o esforço deixou de gerar recompensa. Desde então, o niilismo financeiro na geração Z passou a ser interpretado por estudiosos como adaptação prática. A autora Kyla Scanlon, citada pela Exame, sustenta que o antigo acordo social — estudar, trabalhar e prosperar — deixou de operar para grande parte da juventude.

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Niilismo financeiro na geração Z e a quebra da previsibilidade

A educação, antes vista como passaporte econômico, tornou-se um obstáculo caro. Dados reunidos pela Exame mostram que a dívida estudantil nos Estados Unidos alcançou US$ 1,6 trilhão em 2024. Ao mesmo tempo, o custo universitário subiu cerca de 40%, enquanto apenas 30% dos formandos de 2025 conseguiram emprego inicial na própria área.

Além disso, o acesso à moradia reforça a frustração. Apenas 32% dos jovens de 27 anos eram proprietários em 2024, percentual inferior ao de gerações anteriores na mesma idade. Diante disso, o planejamento de longo prazo perdeu apelo, pois o horizonte parece sempre mais distante do que o esforço permite alcançar.

Niilismo financeiro na geração Z e a aposta como linguagem

Nesse contexto, o risco deixa de ser exceção e vira ponto de partida. Segundo a Exame, quase metade dos investidores da geração Z possui criptoativos, enquanto dois terços acreditam que apostas e moedas digitais são a única via possível de enriquecimento. Plataformas de apostas online também atraem cerca de 31% dos jovens entre 18 e 34 anos.

Mais do que busca por ganhos rápidos, esse comportamento expressa tentativa de controle. Assim, a aposta surge como linguagem compatível com um sistema percebido como instável.

“É difícil culpar os jovens por quererem enriquecer rápido quando eles perderam a fé na possibilidade de enriquecer devagar.”
Andrew Edgecliffe-Johnson, editor do Financial Times

Plataformas de previsão e a busca por controle em um sistema instável

Mais do que busca por ganhos rápidos, esse comportamento expressa tentativa de controle. A Kalshi, plataforma norte-americana de mercados de previsão ligada à empresária catarinense, Luana Lopes Lara, que ganhou repercussão internacional ao alcançar status bilionário, ajuda a ilustrar essa lógica.

O modelo permite negociar contratos de “sim” ou “não” sobre eventos reais, como eleições ou indicadores econômicos, com preços que refletem probabilidades. Para parte da geração Z, esse formato transforma incertezas difusas em decisões visíveis. Ainda que envolva riscos elevados, a proposta dialoga com um contexto no qual participar do jogo parece mais realista do que esperar recompensas lentas que já não se confirmam.

Embora soe alarmante, o niilismo financeiro na geração Z funciona como sinal de ajuste estrutural. Comunidades em redes como Reddit e Discord mostram que esses jovens não desistiram de futuro, apenas rejeitam promessas vazias. Ao tornar visível essa ruptura, a geração empurra governos, empresas e mercados a repensarem modelos que já não entregam o que prometem.