O medo da contaminação por metanol provocou uma mudança de consumo pela crise do metanol em São Paulo. Segundo levantamento da Elo Performance & Insights, o consumo noturno em bares e casas noturnas despencou nas primeiras semanas de outubro, enquanto as compras em supermercados e lojas de bebidas aumentaram. A análise, feita a partir de milhões de transações com cartões, revela como a insegurança alterou hábitos de lazer e reacendeu a busca por segurança no ambiente doméstico.
A pesquisa da Elo mostra que o setor de bares e restaurantes registrou desaceleração de 2,4 pontos percentuais em seu ritmo de crescimento, enquanto supermercados aceleraram 6,7 pontos. Essa inversão reflete a migração do consumo do espaço público para o privado, com impacto direto sobre o lazer urbano. O subsetor de bares, discotecas e casas noturnas foi o mais afetado, com queda de 12,9 pontos em relação a setembro, especialmente durante a semana, quando o consumo caiu 26,6 pontos percentuais.
Bares e restaurantes enfrentam retração após crise do metanol
Em bairros tradicionalmente movimentados, como Vila Madalena, Pinheiros e Centro, empresários relatam quedas abruptas no faturamento. Segundo a Abrasel, pequenas casas de show e bares de bairro foram as primeiras a sentir o impacto. Apesar da retração, muitos estabelecimentos reagiram rapidamente, reforçando controles de procedência, divulgando campanhas de segurança e substituindo marcas suspeitas para reconquistar a confiança do público.
De acordo com Rafael Vasconcellos Cunha Bueno, superintendente de Consultoria da Elo, o medo foi o fator central das mudanças. “Diante da incerteza, o consumidor reduziu drasticamente a exposição em ambientes de socialização, mas não deixou de consumir, apenas migrou essa ocasião para dentro de casa, percebida como mais segura e controlada.” Essa adaptação reflete a força da autoproteção diante da crise de saúde.
Supermercados e lojas de bebidas ganham espaço com mudança de consumo
Enquanto bares enfrentavam queda, supermercados e lojas de bebidas se tornaram refúgios do consumo. As lojas especializadas registraram alta de 1,7 ponto percentual em outubro, revertendo a tendência negativa do mês anterior. O crescimento foi mais intenso durante a semana, quando o consumo aumentou 4,1% em relação a 2024. Esse comportamento sugere que o paulistano manteve o hábito de beber, mas passou a fazê-lo em casa, em busca de segurança e controle.
Tendência duradoura e novos hábitos de compra
Especialistas apontam que a mudança de consumo pela crise do metanol pode consolidar uma nova fase do consumo urbano. A Elo observa o fortalecimento de canais digitais, como aplicativos de delivery e marketplaces de bebidas premium, que crescem impulsionados pela conveniência e pela confiança. Assim como no início da pandemia, o medo reorganizou as prioridades cotidianas — mas, desta vez, sem imposições externas. O episódio evidencia que, diante do risco, o consumidor moderno não deixa de celebrar: apenas escolhe fazê-lo em segurança, dentro de casa.