Moradores de Caridade, no Ceará viveram na segunda (15/12) uma cena que atravessa gerações. O santo sem cabeça, como a imagem inacabada de Santo Antônio ficou conhecida, finalmente ganhou seu rosto após quase quatro décadas de espera. A cabeça foi içada e instalada no corpo de 19 metros que permanecia no Morro do Serrote desde 1986, encerrando um dos capítulos mais curiosos da história urbana e religiosa do município.
Um símbolo que atravessou o tempo
A história do santo sem cabeça começou em 1984, quando a prefeitura idealizou uma grande estátua para atrair visitantes e fortalecer a devoção local. No entanto, dois anos depois, a obra parou por falta de recursos. O corpo permaneceu no alto do morro, enquanto a cabeça ficou no chão, separada, criando uma imagem que passou a integrar o imaginário popular. Com o passar dos anos, a estátua incompleta deixou de ser apenas uma obra parada e virou parte da identidade da cidade.
Santo sem cabeça: do abandono ao novo projeto
Agora, o retorno do santo sem cabeça ao centro das atenções ocorre dentro de um plano mais amplo. O Governo do Ceará assumiu a proposta de construir um complexo religioso no Serrote do Cágado, ponto mais alto de Caridade. O projeto prevê uma nova estátua de Santo Antônio, com 36 metros de altura, além de museu, mirante, capela, áreas comerciais e acesso estruturado. Embora a entrega estivesse prevista para 2022, o cronograma enfrenta atrasos, segundo informações oficiais do estado.
Além disso, a retomada da obra reacende expectativas econômicas. A ideia é transformar o local em polo de visitação contínua, ampliando a circulação de visitantes e criando oportunidades para moradores.
Quando a arte nasce do improvável
A imagem do santo sem cabeça ultrapassou o campo da fé e alcançou a literatura e o cinema. Um recorte de jornal sobre a cabeça abandonada inspirou a escritora cearense Socorro Acioli a criar o romance A Cabeça do Santo. A obra ganhou forma em 2006, durante uma oficina literária em Cuba orientada por Gabriel García Márquez. Anos depois, a história chegou ao cinema, com direitos adquiridos pela produtora Joana Mariani e roteiro inicial de Natália Maia. As filmagens ainda dependem de etapas como financiamento e elenco, e o diálogo com a Prefeitura de Caridade segue em curso.
A reinstalação da cabeça não encerra apenas uma obra física. Ela recompõe uma narrativa coletiva marcada por espera, criatividade e reinvenção. Entre fé, cultura e turismo, o santo sem cabeça deixa de simbolizar ausência e passa a representar novos caminhos para Caridade, onde passado e futuro agora dividem o mesmo olhar.
