A recuperação da camada de ozônio deixou de ser apenas uma projeção distante. Hoje, ela ganha contornos mensuráveis no coração da Antártica. Desde 2022, sensores instalados pelo Brasil no Laboratório Polar Criosfera 1 acompanham, de forma contínua, a radiação ultravioleta que atinge a superfície. Ao mesmo tempo, esses dados surgem no período em que a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou a Década da Restauração do Ozônio. Assim, ciência de campo e políticas globais passam a se conectar de forma direta.
Localizado a mais de 670 quilômetros do Polo Sul, o Criosfera 1 ocupa uma área com baixa interferência de nuvens. Além disso, a região apresenta longos períodos de céu aberto. Esse cenário favorece a observação direta do ozônio estratosférico e da radiação UVA e UVB. Por essa razão, a recuperação da camada de ozônio pode ser acompanhada com maior precisão. Trata-se de uma condição rara, inclusive entre estações científicas internacionais.
Recuperação da camada de ozônio sob observação contínua
Ao longo das últimas décadas, medições revelaram uma queda expressiva na concentração de ozônio sobre a Antártica. Nos anos 1960, os valores giravam em torno de 300 Unidades Dobson. Já no início dos anos 2000, chegaram a cerca de 120. Atualmente, análises recentes indicam uma retomada gradual. Dessa forma, a recuperação da camada de ozônio passa a ser observada com base em séries históricas consistentes. Mesmo sendo um processo lento, os dados reforçam os efeitos positivos do Protocolo de Montreal.
Além disso, o monitoramento contínuo ajuda a entender impactos ambientais associados à redução do ozônio. O aumento do UVB afetou o plâncton marinho, assim como musgos e aves. Como consequência, ocorreram alterações na cadeia alimentar e nos padrões de vento que circundam o continente gelado. Nesse contexto, a recuperação da camada de ozônio também se relaciona com a estabilidade desses ecossistemas.
Projeções futuras
Modelos atmosféricos atuais indicam que a recuperação da camada de ozônio pode levar ao retorno dos níveis naturais entre 2050 e 2100. No entanto, esse intervalo depende de fatores externos, como erupções vulcânicas e grandes incêndios florestais. Eventos recentes, como o vulcão Hunga Tonga, mostraram que a atmosfera ainda responde a perturbações inesperadas. Ainda assim, o conjunto das observações aponta para um cenário encorajador.
Por fim, o trabalho desenvolvido no Criosfera 1 coloca o Brasil em posição de destaque na ciência polar. Ao mesmo tempo, amplia a compreensão global sobre a recuperação da camada de ozônio. Ao transformar medições extremas em conhecimento acessível, a pesquisa indica que decisões ambientais bem coordenadas podem gerar efeitos duradouros para o planeta.
