A atuação de doadores de esperma deixou de ser um tema restrito às clínicas de fertilidade e passou a ocupar o centro do debate público europeu. Uma investigação recente revelou que o material genético de um único doador foi responsável pelo nascimento de quase 200 crianças em diferentes países, levantando alertas sobre saúde, informação e controle em um setor que opera de forma transnacional.
Doadores de esperma e a lógica de escala global
Por um lado, a doação de esperma amplia as possibilidades de maternidade para mulheres solteiras, casais homoafetivos e famílias que enfrentam infertilidade. Por outro, a escassez de candidatos aprovados faz com que poucos doadores de esperma atendam a uma demanda crescente. Menos de 5% dos voluntários conseguem passar por todos os critérios técnicos e genéticos exigidos, o que incentiva bancos de fertilidade a utilizar intensamente os perfis disponíveis.
Além disso, a biologia favorece essa concentração. Cada coleta contém milhões de espermatozoides e pode ser fracionada, congelada e enviada para dezenas de clínicas. Assim, mesmo com regras nacionais, o mesmo doador pode gerar filhos em países diferentes sem que exista um controle centralizado.
Popularidade, escolhas e riscos invisíveis
Entre os doadores de esperma, alguns perfis se tornam mais procurados. Informações como aparência física, escolaridade, habilidades e origem influenciam escolhas, criando uma dinâmica semelhante à de plataformas digitais de relacionamento. Bancos da Dinamarca, por exemplo, ganharam projeção internacional e se tornaram grandes exportadores, atendendo sobretudo mulheres com alto nível educacional.
No entanto, essa popularidade traz riscos pouco discutidos. Quando uma alteração genética passa despercebida, seus efeitos podem se repetir em dezenas de famílias. Além disso, filhos concebidos dessa forma podem descobrir, anos depois, que têm centenas de meio-irmãos espalhados por vários países.
Reação das autoridades e caminhos regulatórios
Diante desse cenário, autoridades europeias passaram a discutir limites mais claros para o uso de doadores de esperma. A proposta de criar um registro continental busca acompanhar a circulação do material genético e reduzir situações extremas. Também há sugestões de estabelecer um teto de famílias por doador, mesmo que isso ainda permita mais de um filho por núcleo familiar.
O debate em torno dos doadores de esperma aponta para um futuro em que ciência, transparência e informação caminhem juntas. Com regras mais integradas e comunicação clara, a doação pode continuar oferecendo oportunidades de formar famílias, ao mesmo tempo em que protege crianças, doadores e a confiança em um setor que segue em expansão.
