No Dia Mundial da Amamentação, celebrado em 1º de agosto, deveríamos apenas celebrar o vínculo nutritivo entre mãe e bebê. No entanto, a contaminação do leite materno por agrotóxicos exige atenção urgente. Estudos da Universidade Federal do Mato Grosso revelaram que, em 100% das amostras analisadas, havia resíduos dessas substâncias. Isso ocorreu em Lucas do Rio Verde, cidade do agronegócio no Mato Grosso. O dado é devastador.
Afinal, como proteger a saúde das crianças se o alimento mais puro da natureza já chega contaminado?
Quando o veneno chega ao berço
As mães que participaram da pesquisa estavam amamentando recém-nascidos entre duas e oito semanas. Essas mulheres não trabalham diretamente com venenos agrícolas, mas convivem diariamente com sua pulverização no ar, na água e nos alimentos. Mesmo sem perceber, elas se tornam canais involuntários de intoxicação.
O leite materno, que deveria ser escudo e remédio, passa a carregar moléculas invisíveis de risco. A ciência já associa os agrotóxicos a alterações hormonais, problemas neurológicos e imunológicos. Bebês em formação são ainda mais vulneráveis. Logo, a questão ultrapassa a saúde individual: é um problema de saúde pública.
Agroecologia é o antídoto possível
Neste Dia Mundial da Amamentação, precisamos olhar para além das campanhas tradicionais. A amamentação, embora essencial, não se sustenta em um sistema alimentar envenenado. Defender a agroecologia é garantir leite materno livre de toxinas, ambiente saudável e comida de verdade na mesa das mães.
Esse modelo agrícola prioriza alimentos sem veneno, sementes crioulas, solos vivos e respeito aos ciclos naturais. Mais que técnica, é uma filosofia de cuidado. Por isso, mães, pais, ativistas e profissionais de saúde têm se unido em defesa desse caminho.
Amamentar é político. E proteger esse gesto também.
O Dia Mundial da Amamentação precisa ser um marco de consciência. Não basta incentivar mães a amamentarem se o contexto que as cerca intoxica seu corpo. A luta por maternidade digna passa pela luta por territórios saudáveis, livres de contaminação.
O artigo publicado na Folha de S. Paulo, ecoa o alerta de pesquisadores: o agronegócio contamina até o primeiro alimento humano. E isso é inadmissível.
Amamentar é um ato de amor — mas também de resistência. Defender a agroecologia é cuidar da vida desde o primeiro suspiro. É garantir que o alimento que sai do peito seja sinônimo de cura, e não de risco.
Agrotóxicos matam. Agrotóxicos adoecem.
Agroecologia alimenta. E cura.