Gastronomia das festas juninas revela sabores únicos de cada região do Brasil e mostra, acima de tudo, como a cultura alimentar do país é rica, diversa e cheia de significados. Ao longo do mês de junho, pratos típicos como canjica, cuscuz, bolo de milho e pé de moleque ganham destaque nas celebrações e, com isso, despertam lembranças afetivas, fortalecem os laços comunitários e valorizam o saber popular.
Além disso, cada receita carrega influências históricas e geográficas que, somadas, refletem as tradições indígenas, africanas e europeias presentes na formação do Brasil. Por isso, a comida típica de São João vai muito além do paladar: ela simboliza memória, resistência e pertencimento, conectando passado e presente em uma experiência coletiva repleta de identidade.
Gastronomia das festas juninas varia entre regiões do Brasil e revelam histórias de identidade cultural
A culinária das festas juninas é um dos maiores símbolos de celebração popular no Brasil. De Norte a Sul, ingredientes como milho, amendoim, mandioca e batata-doce se transformam em receitas que carregam a herança indígena, africana e europeia. A gastronomia das festas juninas ganha um sabor distinto em cada região, refletindo as condições locais, as culturas formadoras e as adaptações históricas de cada comunidade.
Segundo a historiadora Eliane Morelli Abrahão, da Unicamp, muitos alimentos típicos dessa época têm origem indígena e são reinterpretados conforme o acesso regional a ingredientes e técnicas. Por isso, é possível ver o mesmo prato com variações marcantes entre o Nordeste e o Sudeste
Mungunzá no Nordeste, canjica no Sudeste
Um dos exemplos mais conhecidos é o doce feito com grãos de milho branco cozido com açúcar. No Sudeste, é chamado de canjica; no Nordeste, recebe o nome de mungunzá. A origem da palavra “canjica” vem do quimbundo, idioma de Angola, o que reflete a forte influência africana no vocabulário e nos hábitos alimentares das Regiões Norte e Nordeste.
Além disso, em áreas litorâneas do Nordeste, onde o leite de vaca era escasso, o leite de coco tornou-se ingrediente principal de muitas receitas juninas. O arroz-doce, por exemplo, leva leite de coco no Nordeste, enquanto é preparado com leite de vaca no Sudeste.
Amendoim, cuscuz e pratos com histórias diferentes
O amendoim é outro ingrediente-chave da gastronomia das festas juninas. Presente tanto no Sudeste quanto no Nordeste, ele aparece em receitas como paçoca, pé de moleque, bolo de amendoim e até amendoim doce com casquinha.
Outro exemplo de variação regional é o cuscuz. No Nordeste, o prato é geralmente servido no café da manhã com manteiga ou leite de coco. Já no Sudeste, o cuscuz paulista é salgado, cheio de temperos, servido frio ou quente e, muitas vezes, funciona como prato principal.
A chef Helô Bacellar, do canal “Na Cozinha da Helô”, destaca que o cuscuz paulista é um dos pratos que melhor ilustra as diferenças entre as versões juninas do Sudeste e do Nordeste.
Gastronomia das festas juninas como símbolo de afeto e tradição
Mesmo com nomes e preparos diferentes, a gastronomia das festas juninas une o Brasil em torno da mesa. A celebração valoriza o alimento como ponto de encontro entre culturas, origens e afetos.
Para os especialistas, o valor dos pratos típicos vai além do sabor: cada receita representa uma memória coletiva, construída ao longo de séculos de trocas culturais. Por isso, preservar e celebrar essas diferenças é também uma forma de honrar a diversidade e a riqueza do Brasil.