A recente descoberta e autenticação de uma tela inédita de Tarsila do Amaral, intitulada “Paisagem 1925”, trouxe uma nova perspectiva ao legado da artista e agitou o mercado de arte brasileiro. A obra, que permaneceu oculta por quase 100 anos, agora está no centro das atenções, despertando interesse tanto de colecionadores quanto do público geral.
A descoberta e a jornada da tela inédita de Tarsila do Amaral
A obra “Paisagem 1925”, criada durante a fase Pau-Brasil de Tarsila do Amaral, foi recentemente descoberta em uma galeria no centro de São Paulo. Essa fase é reconhecida pela valorização das paisagens brasileiras e pela influência cubista, que Tarsila absorveu durante sua estadia em Paris. O quadro havia sido adquirido nos anos 1950 por Mikael Abouij Naid, um libanês residente no Brasil, que o presenteou à sua esposa, Beatriz Maluf. Após sua morte, a tela foi levada ao Líbano, onde permaneceu até 2023, quando foi repatriada ao Brasil por Moisés Mikhael Abou Jnaid, filho do casal.
O processo de autenticação: ciência a serviço da arte
Diante das suspeitas iniciais de falsificação, especialmente após a exibição da obra na feira SP-Arte em abril de 2024, foi realizada uma perícia científica liderada por Douglas Quintale, presidente do Comitê de Autenticação Tarsila S.A. O processo envolveu exames físico-químicos, análise por luz ultravioleta e escaneamento por infravermelho, garantindo a precisão na verificação da autenticidade da obra. A confirmação oficial da autenticidade da tela trouxe alívio e euforia tanto para a família da artista quanto para os entusiastas da arte.
O impacto da autenticação no mercado de arte
Com a autenticidade confirmada, o valor da tela disparou no mercado. Inicialmente oferecida por R$ 16 milhões, a obra agora é avaliada em impressionantes R$ 60 milhões. Esse aumento de 275% no valor pegou o mercado de arte de surpresa e colocou “Paisagem 1925” entre as obras mais valiosas de Tarsila do Amaral. A comparação com outras vendas históricas, como “A Caipirinha” e “A Lua”, ambas da mesma fase da artista, destaca a importância e o impacto da nova descoberta.
O futuro da obra: exposição e legado
Paola Montenegro, sobrinha-bisneta de Tarsila do Amaral e gestora da Tarsila S.A., expressou o desejo de que “Paisagem 1925” seja exposta em um museu, permitindo que mais pessoas possam apreciar essa nova peça do patrimônio artístico nacional. A confirmação da autenticidade da obra não só amplia o legado de Tarsila do Amaral, mas também reforça a importância de processos científicos rigorosos na preservação da história da arte.
Quem foi Tarsila?
Tarsila do Amaral (1886-1973) foi uma das figuras mais importantes do modernismo brasileiro e é amplamente reconhecida como uma das principais artistas da América Latina. Nascida em Capivari, no interior de São Paulo, Tarsila foi uma artista multifacetada, atuando como pintora, desenhista, escultora, ilustradora, cronista e tradutora.
Sua formação artística começou em São Paulo. Em Paris, Tarsila estudou na Académie Julian, onde desenvolveu sua identidade artística, absorvendo influências das vanguardas europeias. No entanto, foi ao retornar ao Brasil que Tarsila consolidou seu estilo. Ela incorporou elementos da cultura e paisagem brasileira em suas obras. Essa fase ficou conhecida como Pau-Brasil, caracterizada por uma visão nacionalista e uma estética moderna.
Tarsila também foi uma integrante fundamental do “Grupo dos Cinco”, ao lado de Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Esse grupo foi essencial para o desenvolvimento do movimento modernista no Brasil. Sua obra mais famosa, “Abaporu” (1928), inspirou o Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade. Tal manifesto propunha a “deglutição” das influências culturais estrangeiras para criar algo genuinamente brasileiro.