As recentes pesquisas sobre bem-estar e longevidade destacam a importância dos relacionamentos em nossas vidas. Estudos demonstram que pessoas com redes de relacionamento bem desenvolvidas são geralmente mais saudáveis do que aquelas que vivem isoladas. A relação entre nossas interações sociais e a longevidade é tão digna de nota que a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou uma Comissão sobre Conexões Sociais, considerando-as uma “prioridade de saúde global”.
Importância das conexões sociais: o modelo de saúde biopsicossocial
Apesar de alguns céticos questionarem a conexão entre bem-estar físico e solidez dos relacionamentos, a compreensão do modelo de saúde “biopsicossocial” tem evoluído ao longo das décadas. Em meu livro, “The Laws of Connection” (“As leis da conexão”, em tradução livre), explorei como as amizades influenciam desde a resistência do sistema imunológico até a probabilidade de doenças cardíacas. A pesquisa é clara: para uma vida longa e saudável, devemos priorizar nossos relacionamentos.
A pesquisa de Lester Breslow e o “Alameda 7”
Nos anos 1960, Lester Breslow, médico do Departamento de Saúde Pública da Califórnia, iniciou um estudo com cerca de 7 mil participantes para identificar hábitos que promovem a longevidade. Ele descobriu sete comportamentos essenciais para a boa saúde: não fumar, beber com moderação, dormir adequadamente, fazer exercícios, evitar guloseimas, manter um peso saudável e tomar café da manhã. Esses hábitos, conhecidos como “Alameda 7”, tornaram-se a base das orientações de saúde pública.
Conexões sociais como fator de longevidade
Em 1979, Lisa Berkman e S. Leonard Syme, colegas de Breslow, identificaram um oitavo fator crucial: as conexões sociais. Pessoas com redes sociais robustas apresentavam metade da probabilidade de morrer em comparação às mais isoladas. Este resultado persistiu mesmo após ajustar fatores como situação socioeconômica, saúde inicial, consumo de cigarros, prática de exercícios e alimentação.
A profundidade dos relacionamentos
Todos os tipos de relacionamentos são importantes, mas alguns ganham mais destaque. O senso de conexão com cônjuges e amigos próximos oferece maior proteção, embora conhecidos casuais também contribuam para afastar problemas de saúde. O apoio social pode estimular o sistema imunológico e nos proteger contra infecções.
Estudos de Sheldon Cohen
Nos anos 1990, o psicólogo Sheldon Cohen conduziu um estudo na Universidade Carnegie Mellon, onde 276 participantes relataram suas conexões sociais antes de serem expostos ao rinovírus, causador de resfriados. Os resultados mostraram que indivíduos com redes sociais amplas tinham menor incidência de resfriados. Pessoas isoladas apresentaram risco três a quatro vezes maior de adoecer.
Vínculos sociais e doenças crônicas
A qualidade dos relacionamentos também influencia doenças crônicas como diabetes tipo 2. Uma pesquisa com 4 mil participantes do Estudo Longitudinal Inglês sobre o Envelhecimento mostrou que a solidão previu o desenvolvimento de diabetes tipo 2 na década seguinte. Além disso, relações sociais fortes estão associadas a menor risco de Alzheimer e doenças cardiovasculares.
A psicóloga Julianne Holt-Lunstad compilou 148 estudos sobre conexões sociais e mortalidade, envolvendo 300 mil participantes. Ela concluiu que a qualidade das relações sociais tem impacto igual ou maior na saúde do que fatores como consumo de álcool, exercícios, índice de massa corporal e poluição do ar. A única exceção foi o cigarro.
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Causa ou correlação?
Embora alguns questionem a causalidade, os critérios de Bradford Hill ajudam a demonstrar a relação entre estilo de vida e doença. Estudos como a pesquisa Alameda mostram que as escolhas de vida precedem o desenvolvimento de doenças. A solidão, portanto, contribui para problemas de saúde, independentemente de outros fatores.
A evolução como fator explicativo
Nossa evolução social explica por que a solidez das conexões sociais influencia a saúde. No passado, viver em grupos era crucial para a sobrevivência. O isolamento social é interpretado pelo corpo como uma ameaça, desencadeando respostas fisiológicas que, a longo prazo, podem aumentar o risco de doenças.