Há mais de duas décadas, a comunidade judaica na Líbia viu o fim de sua presença no país. Em 2003, Rina Debach, aos 80 anos, foi a última judia a deixar a Líbia, encerrando uma história de séculos. Com a fundação de Israel em 1948, muitos judeus líbios emigraram, buscando segurança. No entanto, as tradições, especialmente a autêntica culinária mediterrânea, sobreviveram na memória dos imigrantes.
O restaurante Shakshuka, localizado em São Paulo, é um verdadeiro santuário dessa culinária, preservando receitas que não são mais encontradas em sua terra de origem. A ideia do restaurante surgiu de Keren Ora Admoni Karman, que, juntamente com a chef e sócia Erika Kaiser Mori, trouxe à vida as receitas da mãe de Keren, Yaffa Admoni. Inicialmente funcionando como um café dentro do Centro da Terra, em Perdizes, o Shakshuka agora opera como um restaurante completo, aberto para almoço e jantar de segunda a sexta-feira.
Autêntica culinária mediterrânia: a história e a tradição por trás do Shakshuka
A história do shakshuka é intrinsecamente ligada à de Yaffa Admoni. Nascida na Líbia e criada em Israel, Yaffa trouxe suas tradições culinárias para São Paulo. Sua filha, Keren, fundou o primeiro restaurante especializado na culinária judaica do norte da África na cidade. A cozinha do Shakshuka representa a herança de uma população que viveu por séculos em países como Líbia e Tunísia e que emigrou em meados do século XX, levando consigo uma rica bagagem cultural e gastronômica.
O menu do restaurante
O destaque do menu é o prato que dá nome ao restaurante, shakshuka, ovos escalfados em molho de tomate condimentado, servidos em diversas variações. Uma das versões inclui a mistura de temperos filfeltchuma, típica da Líbia. Erika explica que a versão servida no restaurante é menos picante, adaptada ao paladar brasileiro, embora Yaffa tenha sentido falta da pimenta original. O shakshuka Tripoli, por exemplo, é servido com espinafre, enquanto o Magreb inclui berinjela defumada, amêndoas e coentro, remetendo ao babaganoush.
Além do shakshuka, o restaurante oferece outros pratos tradicionais. O Hraime Tuna, com pedaços de atum em molho de tomate condimentado com conserva de limão siciliano, é um destaque. Para os vegetarianos, há o Hraime Asseda, uma massa de semolina semelhante a um grande nhoque. A chef Erika Mori também trouxe toques pessoais ao menu, como o pörkölt, um guisado goulash servido sobre spätzle, uma homenagem à sua ascendência húngara. Com a chegada do inverno, a sopa Harira, típica do Magreb, também é servida, oferecendo uma opção reconfortante para os dias mais frios.
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Sobremesas e experiência culinária
As sobremesas do restaurante Shakshuka são igualmente impressionantes. A babka, um doce tradicional dos judeus do leste europeu, e a Selek, feita com coalhada de ovelha, maçã, beterraba, telha de suspiro e crocante de avelã e especiarias, são destaques. A Selek, originalmente uma salada, transformou-se em sobremesa durante os testes da chef Erika e conquistou os clientes.
O restaurante Shakshuka não é apenas um local para desfrutar de uma antiga tradição gastronômica, mas também uma oportunidade de ver essa tradição atualizada e servida de forma reconfortante em um ambiente aconchegante. Além da comida, o local oferece uma programação cultural rica, incluindo exibições de filmes, shows musicais e performances de dança.