Nascido em São Paulo e guitarrista dos Titãs, Tony Bellotto, de 64 anos, lança seu 13º romance policial, “Vento em Setembro”. Este livro, publicado pela Companhia das Letras, traz de volta memórias da adolescência do autor em Assis, cidade do interior paulista que serve como pano de fundo para a narrativa.
Tony Bellotto passou parte de sua adolescência em Assis, e essa experiência se reflete vividamente em “Vento em Setembro”. A cidade, conforme retratada no romance, é uma mistura de memórias e ficção. Bellotto lembra do colégio Diocesano onde estudou, um prédio que já não existe mais, mas que ele reviveu em sua narrativa. Essa conexão pessoal dá uma autenticidade única ao cenário do livro, onde a realidade se mescla com a imaginação.
Tony Bellotto ambienta ‘Vento em Setembro’ em 1974
A trama de “Vento em Setembro” se desenrola em 1974, centrada em Máximo Leonel, um grande latifundiário que organiza uma festa para celebrar seu filho caçula, Alexandre. Esse evento desencadeia uma série de acontecimentos, incluindo o desaparecimento de Alexandre.
O romance é descrito por Bellotto como polifônico, apresentando uma narrativa paralela ambientada nos dias atuais em Ouro Preto, Minas Gerais. Aqui, uma série de pichações em prédios históricos gera uma grande revolta. O personagem-narrador, Davi, um jornalista e escritor, vê imagens dessas pichações e sente que estão de alguma forma ligadas a um livro que ele escreveu sobre Aleijadinho. Esta descoberta o leva a uma trama que se estende a outras cidades, como Santos, Atenas e Cidade do México.
Influências psicanalíticas
Bellotto revela que sua experiência com a psicanálise influenciou significativamente a escrita de “Vento em Setembro”. O autor vem se dedicando à psicanálise freudiana há anos, e essa introspecção se reflete nas complexidades emocionais dos personagens e na profundidade das tramas. O romance funciona como um inventário das experiências de vida de Bellotto, explorando temas de autoconhecimento e reflexão pessoal.
Ao atingir os 60 anos, Bellotto reflete sobre a vida vivida e o que está por vir, identificando-se com vários personagens do livro. Desde o menino do interior, oprimido pelo machismo durante a ditadura militar, até o narrador que busca sua identidade aos 40 anos e o adulto desiludido. Essas introspecções pessoais adicionam camadas de profundidade ao romance, tornando-o uma obra rica e multifacetada.
Leia também:
Processo criativo e inspirações
A inspiração para “Vento em Setembro” surgiu intuitivamente para Bellotto. A frase que abre o romance foi o ponto de partida para a construção da história. O título do livro foi inspirado em “Luz em Agosto” do escritor norte-americano William Faulkner, conectando de forma simbólica as duas obras.
Bellotto entregou os originais do livro à editora pouco antes de iniciar a turnê de 40 anos dos Titãs, intitulada “Encontro”. A turnê, que durou um ano e meio, dificultou a conciliação entre música e literatura, mas também forneceu material para um diário da turnê, que Bellotto espera transformar em um projeto literário futuro.
Bellotto e o futuro literário
Além de “Vento em Setembro”, Bellotto trabalha em um novo álbum com os Titãs, “Microfonado”. Sobre a possibilidade de adaptar “Vento em Setembro” para uma produção audiovisual, Bellotto é otimista. Ele visualiza suas histórias de maneira cinematográfica, acreditando que seu romance poderia se transformar em uma série envolvente.