Em Boa Esperança (AM), a relação íntima com a terra é visível nas práticas diárias. Weneson Paulo Araújo de Freitas, ou apenas Paulo, exemplifica essa conexão ao descrever o processo de coleta de açaí. Subir nas palmeiras, uma tarefa que requer força, flexibilidade e equilíbrio, é uma prática comum e culturalmente significativa. O açaí, preparado de várias maneiras, é um alimento central na dieta local e carrega histórias ancestrais, como a lenda tupi das lágrimas que originaram a palmeira de açaí.
Paulo e outros moradores de Boa Esperança também cultivam diversas frutas como cupuaçu, goiaba e melancia. A Casa de Polpa, construída com apoio do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, ajuda a comunidade a processar e armazenar essas frutas, demonstrando a integração entre saberes tradicionais e iniciativas modernas de sustentabilidade.
A riqueza das frutas da Amazônia
A comunidade de Boa Esperança está situada em uma área rica em história e biodiversidade. Próxima aos rios Japurá e Solimões, a comunidade foi estabelecida por pioneiros que valorizaram a terra fértil e as águas escuras da região. Essa terra, conhecida como terra preta de índio, é fértil devido ao acúmulo histórico de resíduos orgânicos e uso do fogo.
Além disso, a presença de urnas funerárias e outros artefatos arqueológicos nas proximidades das casas revela a antiga ocupação indígena e a continuidade cultural. A pesquisadora Jaqueline Gomes destaca a profundidade da terra preta e a abundância de fragmentos cerâmicos.
Mudanças climáticas e impactos na agricultura local
As mudanças climáticas têm afetado a agricultura, e por conseguinte as frutas da Amazônia. Paulo relata dificuldades crescentes na previsão do clima, afetando a produção de açaí e outros cultivos. As secas severas e enchentes extremas prejudicam tanto a pesca quanto o cultivo, alterando o equilíbrio ecológico e a segurança alimentar das comunidades.
O estudo “Vulnerability of the Acai Palm to Climate Change”, conduzido por pesquisadores, confirma a vulnerabilidade do açaí às mudanças climáticas. Esse fruto, símbolo da Amazônia, enfrenta desafios crescentes devido às condições climáticas adversas.
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A importância da diversidade alimentar
Nesse sentido, a região é um tesouro de biodiversidade, oferecendo uma vasta gama de frutas ricas em nutrientes. No entanto, muitas dessas frutas são pouco conhecidas fora da Amazônia. Edna dos Anjos, conhecida como Rosa, destaca a importância do uxi, um fruto amazônico nutritivo, na dieta local. Rosa, uma quilombola, aprendeu desde cedo a valorizar os alimentos locais e agora investe em culinária e turismo comunitário.
O futuro da alimentação na Amazônia: uma publicação gastronômica
O livro “Frutas da Floresta: o Poder Nutricional da Biodiversidade Amazônica”, publicado esse ano pelos pesquisadores Yasmin Araujo, Elenilma Barros, Claudioney Guimarães, Michelle Jacob, Juliana Maia, e Daniel Tregidgo, visa educar e promover o consumo de frutas regionais. Essa obra, fruto da colaboração entre pesquisadores e comunidades, compila dados culturais e receitas para estimular uma alimentação saudável e diversificada.