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Do artesanato à música: Festival de Parintins aquece produção cultural

Festival de Parintins movimenta R$ 160 milhões e atrai 120 mil visitantes, impulsionando a produção cultural local.
Do artesanato à música: Festival de Parintins aquece produção cultural

No centro de Parintins, no Amazonas, a calmaria de outros períodos do ano dá lugar a uma intensa movimentação durante o Festival de Parintins. Vendedores locais e de outras cidades, tanto com estruturas fixas quanto como ambulantes, transformam a área em um agitado centro comercial. É possível comprar desde comidas e bebidas até dispositivos eletrônicos. Mas o que realmente chama atenção é a criativa produção cultural local que envolve artesanato, telas, adereços e roupas.

O artesão Mateus Pereira relata que, nessa época, o Festival de Parintins é fundamental para impulsionar seu trabalho. Ele explica a necessidade de inovar anualmente para agradar aos torcedores dos dois protagonistas: o Boi Caprichoso e o Boi Garantido. “Não pode repetir porque o cliente que vem, volta no ano seguinte. E ele não vai comprar uma peça que viu no ano anterior”, comenta.

A jornada de um artesão

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O artesão Mateus Pereira, admirador do Boi Caprichoso, trabalha com o comércio de peças regionais e artesanato alusivo ao Festival de Parintins (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil).

Observando técnicas que já eram empregadas por sua mãe, Mateus começou seu caminho de artesão autodidata aos 12 anos. Nascido em Manaus, mudou-se ainda criança para Parintins, onde desenvolveu um trabalho reconhecido, com destaque para peças em madeira. Sua produção inclui também telas, esculturas e arte com material reciclável.

 

“Tudo que eu tenho na minha vida eu consegui através da arte. Eu procuro fazer o que mais vende em cada temporada, mas sempre ofereço uma produção diferenciada, com acabamento e boa matéria-prima. Isso agrega valor e ganhamos mais respaldo dos clientes. Tenho obras vendidas na Alemanha, Polônia, Itália, França, Espanha, Canadá, Estados Unidos, México, Argentina e Colômbia”, afirma.

Influência do festival

O Festival de Parintins impulsiona o artesanato local. Mateus conta que muitos produtores trabalham apenas na época do evento. Mesmo aqueles que produzem o ano inteiro, como ele, veem um aumento nas vendas quando o Boi Garantido e o Boi Caprichoso atraem milhares de turistas.

“Trabalho 365 dias por ano. Não tenho outro meio de sustento. Depois do festival, mudo a temática para peças religiosas devido à festa de Nossa Senhora do Carmo. Depois chegam os navios de cruzeiro com visitantes que não estão interessados em boi, mas em araras, tucanos, onças, fauna e flora amazônica. Mas o festival é sempre a época que mais vende. Fiz bois que movimentam a cabeça e todos foram vendidos rapidamente”, conta.

Divisão da cidade

O Festival de Parintins, em sua 57ª edição, divide a cidade entre o vermelho do Boi Garantido e o azul do Boi Caprichoso. Considerado patrimônio cultural do país pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ele está ligado à tradição cultural do Boi-Bumbá, narrando a lenda da ressurreição do boi. As apresentações no Bumbódromo começaram na sexta-feira (28) e terminaram no domingo (30). Dez jurados avaliaram 21 quesitos, e o campeão será anunciado nesta segunda-feira (1º).

Economia

A expectativa do governo amazonense é que o evento movimente R$ 160 milhões. A prefeitura de Parintins estima 120 mil visitantes, superando o número de habitantes da cidade, que é de 96,3 mil pessoas, segundo o Censo Demográfico 2022. Os benefícios econômicos se estendem além de Parintins, alcançando setores como o de transporte, com turistas vindos de Manaus e outras cidades do Amazonas.

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O designer gráfico Weucles Santos, integrante do Movimento Garantido, viajou até Parintins para apoiar o Boi Garantido no 57º Festival de Parintins, dormindo em uma rede durante a viagem de barco (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil).

Em Manaus, o festival também beneficia profissionais envolvidos com a arte e a cultura. Weucles Santos, designer gráfico de Itacoatiara e residente em Manaus, trabalha com o Movimento Amigos do Garantido (MAG) produzindo materiais artísticos de divulgação. Mesmo sem influência familiar no festival, ele se apaixonou pelo boi vermelho e branco e viajou 16 horas de barco para participar do evento.

Produção artística

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Agostinho Rodrigues, coordenador de Fantasias do Boi Garantido (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil).

Os figurinos e elementos cênicos das apresentações envolvem muitos profissionais, alguns dos quais trabalham no carnaval carioca. Agostinho Rodrigues, coordenador de figurinos do Boi Garantido, destaca que, embora existam semelhanças com o carnaval, o Festival de Parintins tem suas características próprias. Ele conta que a sustentabilidade é uma diretriz importante na produção, com uso de materiais locais e técnicas que evitam agredir a natureza.

Trabalho autodidata

Muitos envolvidos na produção são autodidatas, como Mateus Pereira. Agostinho relata que o processo de produção é artesanal, sem recursos eletrônicos ou hidráulicos. “Tudo manual com corda e cabo de aço. São as mãos das pessoas que movimentam as alegorias. Às vezes há 50 pessoas movimentando uma única alegoria. Este festival é uma vitrine que vende a nossa imagem, mostrando o conhecimento do artista parintinense”, comenta.

Musicalidade do festival

Os organizadores estimam que 10 mil pessoas estejam envolvidas na realização das apresentações. Cada boi escolhe um tema para guiar o espetáculo. Neste ano, o Caprichoso se apresenta com “Cultura – O Triunfo do Povo”, e o Garantido aborda os “Segredos do Coração”. As toadas, músicas compostas para o festival, são lançadas em álbuns e disponibilizadas nas plataformas digitais.

Tadeu Garcia, compositor do Boi Garantido, lembra sua dedicação ao boi vermelho e fala sobre o desafio de compor letras que intensifiquem as emoções durante as apresentações. “O Garantido desperta em cada um de nós uma hipersensibilidade. A gente faz a toada para que cada torcedor sinta como se a toada fosse sua”, observa.

Além das toadas oficiais, o festival promove outros gêneros da cena musical local. Na Festa dos Visitantes, artistas locais se apresentaram ao lado de nomes nacionais como Belo e Thiaguinho, dando boas-vindas aos turistas. A cantora Márcia Novo celebrou a realização de um sonho ao ser anunciada como uma das atrações. “Todo ano que vinha curtir a festa, pensava: um dia vou cantar aí! E agora esse dia chegou”, comemorou.

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