Em 2023, Porto Alegre ganhou um marco cultural: o primeiro Museu do Hip Hop do Brasil. Localizado na Vila Ipiranga, este espaço é fruto de uma luta de quatro anos encabeçada por agentes do movimento Hip Hop no estado do Rio Grande do Sul, com a Associação da Cultura Hip Hop de Esteio à frente da iniciativa. O rapper e militante Rafa Rafuagi, um dos coordenadores do museu, descreve o espaço como “um sonho intergeracional”.
O museu abriu suas portas em um ano emblemático para o Hip Hop, que celebrou 50 anos no mundo e 40 anos no Brasil em 2023. A inauguração foi marcada por uma cerimônia que reforçou o desejo de que o museu sirva de inspiração para a criação de espaços semelhantes em outros estados brasileiros. Isso reflete a ambição de, em cinco anos, formar uma rede nacional que possibilite a criação do Museu Brasileiro da Cultura Hip Hop.
Sediado em uma antiga escola municipal cedida pela prefeitura de Porto Alegre em 2021, o museu conta com cerca de seis mil itens em seu acervo. Essa coleção abrange tanto aspectos físicos quanto digitais da história do Hip Hop na região. O local abriga salas expositivas, um ateliê de oficinas, um café e uma loja. Além disso, conta com uma estufa agroecológica, uma biblioteca, uma quadra poliesportiva, um centro de treinamento (CT) de breaking e um estúdio.
Educação e cultura
Para Carla Zhammp, o Hip Hop é estratégico para a educação, e o museu prova isso ao incorporar os cinco elementos fundamentais desta cultura: DJ, MC, Graffiti, Break Dance e o Conhecimento. Cada um desses elementos está interligado na expografia do museu. Isso promove não apenas um programa expositivo, mas também um espaço de educação, formação e lazer.
Alice Thume, educadora do museu, destaca a integração dos elementos do Hip Hop: “Não tem como pintar na parede se não souber dançar com a lata”. O objetivo do projeto é criar um ambiente integralmente ocupado como local de educação e capacitação, fortalecendo a comunidade local.
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Exposição e identidade cultural
As escadas que conectam os dois andares do prédio estampam letras de músicas de grandes nomes do Hip Hop brasileiro, como Racionais MC e Zudilla. O corredor do Hip Hop, grafitado em tinta neon, exibe rostos de figuras importantes do movimento no Rio Grande do Sul.
A cenografia do museu é rica em elementos identitários da cultura Hip Hop. Nesse sentido, apresenta latas de tinta, tênis pendurados e estações de trem que remetem às origens do movimento nos Estados Unidos. As paredes dos corredores abrigam fotografias de grupos, recortes de jornais e registros de momentos políticos significativos para o Hip Hop.
O Museu do Hip Hop é como um álbum de família para a comunidade. Ele reúne memórias e histórias de diversas regiões do Rio Grande do Sul. O museu também serve de inspiração para projetos sociais como o Tropa do Cout, liderado por CoutMR em Alvorada. Esses movimentos buscam apresentar a cena do rap e do trap gaúcho para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. A instituição também promove o protagonismo feminino no Hip Hop. Nesse sentido, conta com figuras como B.Girl Ceia Santos, uma das pioneiras do estado, destaca a resistência e a importância do movimento para mulheres e mães.
Solidariedade durante as enchentes
O museu desempenha um papel ativo na sociedade, apoiando comunidades em momentos de crise, como durante as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. O evento “Vem pro Museu Solidário” arrecadou três toneladas de alimentos, além de itens essenciais como colchões e cobertores, distribuídos para as áreas mais afetadas.
A iniciativa solidária contou com o apoio do Ministério da Reconstrução do Rio Grande do Sul, que forneceu 200 colchões, 500 cobertores e 200 cestas básicas. Esses itens foram entregues pelo ministro Paulo Pimenta, em uma colaboração que destacou a importância do envolvimento do governo em projetos comunitários. Além disso, os Correios se uniram ao esforço, facilitando a logística de distribuição dos donativos.