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Autoexibição nas Redes Sociais: O Que Está Por Trás? – Por Francisco Caminha

Na cafeteria, Francisco Caminha observa o comportamento de mulheres com celulares e garrafinhas, refletindo sobre a era digital e a autoexibição.

Sozinha na cafeteria da livraria, ela manuseia com habilidade o celular. Começa a se exibir na câmera, deslizando uma das mãos nos cabelos, fazendo poses e sorrindo. Ela ergue o rosto com um “sex appeal” discreto e faz um biquinho com a boca. Percebo um ar de felicidade ao vê-la se admirando na entrada do mundo virtual. Depois, começa a digitar rapidamente um texto.

Eu me pergunto: para quem ela se exibe? Será que é para um amado ou apenas para postar no Instagram? De repente, movimenta até a boca uma garrafinha de água que virou moda. Parece que as garotas não saem mais de casa sem esse acessório da compulsão por hidratação. Sinto um incômodo ao vê-las segurando e sugando a água toda hora com suas garrafas personalizadas.

Eu me pergunto: o que Freud pensaria ao ver as mulheres posando para redes sociais com esses símbolos fálicos? Lembro que, no meu tempo de Marinha, as garotas que visitavam a Escola Naval tiravam fotos segurando os canhões do forte.

Depois de levantar da cadeira, fez de conta que não me viu e foi ao caixa. A mesa ficou vazia, e de repente, senta outra jovem segurando uma garrafinha rosa. Começa a mexer no celular. À direita, vejo outra garota conversando por vídeo no celular. A garçonete chega com uma água. Ela tira uma garrafa de metal da bolsa e despeja o líquido. Prefere beber na garrafa do que no copo. Será um hábito condicionado da fase oral da criança?

Adiante, vejo um casal sentado, ambos atentos ao celular. Observo o ambiente e simultaneamente escrevo este texto.

Tenho a impressão de que o mundo virtual se tornou a primeira ou segunda vida de muitos. No Instagram, todos são felizes, bonitos e ricos. Talvez, para escapar da dor ou da solidão, criam na mente o mundo desejado e fazem um perfil nas redes sociais de uma vida feliz. Tirar fotos ao lado de carros de luxo, em restaurantes chiques, em paisagens bonitas, e postar frases de efeito para atrair seguidores e admiradores. Assim, são felizes no autoengano.

Quase tudo na internet é fake. Tornam-se um fake de si mesmos. A autoexibição nas redes sociais é uma forma de não sentir o vazio existencial. Alimentam uma ilusão para transcender a medíocre vida da cruel realidade.

Nunca mais verei a primeira mulher da garrafinha, que com elegância e sensualidade se exibiu cultuando a si mesma. Não deve ser casada; se fosse, não estaria se exibindo nas redes sociais. Provavelmente estaria no trabalho ou cuidando da casa e dos filhos, enfadada de sexo sem fetiches e ainda tendo que aturar o marido desatento que nem levanta a tampa da privada. Talvez segurar e sugar a água na garrafinha seja mais prazeroso do que o insosso canhão do marido.

*Opinião – Artigo por Francisco Caminha, escritor.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal.

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