Desde criança, Alessandra Rithiele, uma administradora e atriz surda de 25 anos, descobriu no teatro um meio para lutar pela visibilidade da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e pela inclusão da comunidade surda. Aos oito anos, ela iniciou sua jornada artística na Escola Bilíngue Frei Pacifico em Porto Alegre, transformando a arte em uma ferramenta de expressão pessoal e coletiva.
Barreiras e desafios no acesso à cultura
Apesar de sua paixão, Alessandra enfrentou diversos obstáculos, como a falta de intérpretes de Libras em muitas apresentações. Isso limitava sua participação a eventos específicos para surdos ou a espetáculos que contassem com algum apoio acessível. “A Libras é tudo na minha vida. Eu valorizo, e as pessoas estão valorizando mais”, afirma Alessandra, destacando a importância do bilinguismo.
Teatro em Libras no Brasil: demografia e direitos
O IBGE estima que existem mais de 10,7 milhões de pessoas surdas no Brasil, um país onde a Libras foi reconhecida como a segunda língua oficial em 2002. No entanto, dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2021 revelam que a maioria dos brasileiros ainda não domina a língua de sinais, com apenas 9,2% dos indivíduos com alguma dificuldade auditiva entre 5 e 40 anos conhecendo Libras. Essa falta de conhecimento contribui para o isolamento social da comunidade surda.
Cacau e o projeto ‘Arte de Sinalizar’
Cláudio Mourão, conhecido como Cacau, é um ator e professor surdo que coordena o projeto ‘Arte de Sinalizar’ na UFRGS. Seu trabalho visa ampliar a visibilidade das produções artísticas em Libras. “Onde estavam os registros em língua de sinais?”, questiona ele sobre a falta histórica de material cultural acessível. Cacau criou um repositório digital para compartilhar e preservar as artes da comunidade surda.
Grupo Signatores: liderança surda no palco
O grupo Signatores, estabelecido em 2010, é pioneiro em colocar atores surdos no centro das narrativas teatrais, enfatizando a expressão corporal e visual, elementos fundamentais da Libras. Adriana Somacal, diretora do grupo e doutoranda em Teatro pela UDESC, fala sobre a importância de adaptar o processo criativo para incluir plenamente os atores surdos: “O Signatores foi sempre voltado aos surdos, priorizando os estímulos visuais e a expressão corporal”.
Transformação e impacto
A participação no Signatores permitiu a atores como Lucas Bourscheid desenvolverem novas habilidades e se tornarem formadores dentro da própria comunidade surda. “Isso muda a nossa vida”, diz Lucas, destacando como a integração do teatro e da Libras enriquece tanto as performances quanto a vida pessoal dos envolvidos. O grupo também explora o audiovisual, criando mais oportunidades para expressões artísticas em Libras.
Conexão e reflexão cultural
Priscila Lourenzo, professora de teatro com surdos e mestre em Educação pela UFRGS, enfatiza como o teatro em Libras no Brasil pode ser uma ponte entre a cultura surda e a ouvinte, promovendo um diálogo enriquecedor e oferecendo novas perspectivas sobre a realidade. A arte, segundo ela, tem o poder de conectar pessoas, permitindo que elas compartilhem experiências e reconheçam a diversidade de expressões culturais.