Na busca por soluções sustentáveis para os crescentes problemas ambientais, cientistas e arquitetos estão recorrendo aos fungos, explorando sua capacidade de decompor resíduos e poluentes. Esta abordagem promete não apenas mitigar a contaminação ambiental, mas também pavimentar o caminho para uma construção mais ecológica e sustentável.
Uma solução natural para resíduos de construção
Em Cleveland, uma cidade marcada por uma epidemia de casas abandonadas repletas de materiais tóxicos, a startup de arquitetura Redhouse Studio, liderada por Chris Maurer, está implementando um projeto denominado Biocycler. Este projeto visa transformar os resíduos de demolição dessas estruturas em materiais de construção limpos, utilizando fungos para decompor e remover toxinas.
O processo começa com a mistura de resíduos, incluindo madeira, celulose e outros materiais de construção, em um substrato fértil para o crescimento de fungos. À medida que os fungos se desenvolvem, eles extraem metais pesados e outras toxinas, incorporando-os em seus tecidos. Após a extração, os restos do substrato, agora livres de contaminantes, são compactados e aquecidos para criar “mycoblocks” – tijolos biológicos com propriedades comparáveis às da madeira dura e, em alguns casos, superior ao concreto.
Micorremediação: uma bioeconomia circular
O conceito de micorremediação está ganhando força globalmente, com aplicação em uma variedade de contextos ambientais. Desde a filtragem de óleo em canais na Nova Zelândia até a redução de hidrocarbonetos de petróleo no solo em projetos europeus, os fungos estão demonstrando uma versatilidade notável na limpeza de poluentes.
Além disso, organizações como a CoRenewal estão explorando o potencial dos fungos para regenerar ecossistemas danificados por incêndios florestais e vazamentos de óleo, utilizando espécies de cogumelos que degradam petróleo e hidrocarbonetos para prevenir a contaminação de cursos d’água e revitalizar o solo.
Desafios e potenciais da tecnologia fúngica
A pesquisa sobre a capacidade dos fungos de lidar com poluentes emergentes, como os PFAS (“produtos químicos eternos”), está em andamento. Estudos preliminares indicam que certas espécies de fungos podem quebrar esses compostos perigosos, oferecendo uma alternativa sustentável e econômica para sua eliminação.
Inovação em construção e sustentabilidade
O projeto Biocycler da Redhouse não é o único a explorar o potencial construtivo dos fungos. Na Namíbia, experimentos com micoconstrução estão oferecendo soluções habitacionais sustentáveis para crises habitacionais exacerbadas pelo deslocamento climático. Utilizando “mycoblocks”, esses projetos demonstram como materiais construídos com fungos podem fornecer alternativas viáveis e ecológicas aos métodos tradicionais de construção.